Um dia para festejar 'Ulysses', de James Joyce

Casa das Rosas e Finnegan's Pub comemoram a data que marca o romance; veja o programa da festa

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Por Redação
Atualização:

Ubiratan Brasil e Antonio Gonçalves Filho

 

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SÃO PAULO - Já se tornou uma tradição que percorre o mundo: todo dia 16 de junho, admiradores do escritor irlandês James Joyce (1882- 1941) relembram a data que marca seu romance Ulysses, marco da literatura que narra a memorável caminhada de 18 horas do judeu-húngaro-irlandês Leopold Bloom pela cidade de Dublin, atravessada pelo Rio Liffey, justamente em 16 de junho de 1904. O enredo é festejado em diversas cidades do planeta e, no Brasil, a mais tradicional ocorre em São Paulo.

 

Habitualmente organizado pelo poeta e tradutor Marcelo Tápia, o Bloomsday paulistano (que acontece desde 1988) inclui palestras, exibições de filmes, apresentações musicais e leituras no bar Finnegan’s, local que habitualmente recebe o evento - no fim de semana passado, houve uma prévia na Casa das Rosas, que participa do Bloomsday desde 2005.

 

A programação começa às 19h30, com apresentação de música irlandesa tradicional, pelo grupo Irish Dreams. Em seguida, Tápia fará uma breve apresentação de Ulysses, que vai anteceder a leitura de fragmento do episódio Ítaca - o texto em inglês será narrado por John Milton, e em português, na tradução de Caetano Galindo, pelo próprio Tápia, joyciano confesso que, desde 1992, publica folhetos explicativos, como o programa e os textos do evento.

 

Publicado em 1922, o romance Ulysses apontou para um novo rumo literário ao revolucionar a forma e a estrutura do romance, influenciando decisivamente o desenvolvimento da "corrente da consciência" e impulsionando a linguagem e as experiências linguísticas aos limites da comunicação. À época de sua publicação, no entanto, em 1922, a obra foi considerada obscena e diversos exemplares foram queimados ou desapareceram. Logo, porém, os críticos observaram a radicalidade de sua revolução na linguagem, levada a níveis de complexidade incomuns. Em pouco tempo também, Joyce conquistou respeitados admiradores como o escritor alemão Thomas Mann, que se via próximo da escrita do irlandês, especialmente no gosto comum pela paródia como operação estilística.

 

O Dia de Bloom paulistano vai prosseguir com leituras do texto joyciano feitas por tradutores e escritores como Alípio Correia de Franca Neto e Alex Dias. O encerramento será marcado por uma apresentação musical de Alberto Marsicano (cítara), Cid Campos e Lúcio Agra, acompanhados por leitura de fragmentos de Ulysses e Finnegans Wake, em inglês, por John Milton.

 

Em Curitiba, o evento terá lugar na Universidade Federal do Paraná, a partir das 14 horas, enquanto em Belo Horizonte a comemoração vai ser no Museu Inimá de Paula, às 17 horas, com a exposição Alucinações, em que Adriana Peliano aproxima Joyce de Lewis Carroll.  (Ubiratan Brasil)

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Censura marca de novo a obra do irlandês

 

Ulysses, a obra-prima de James Joyce, não é considerado obsceno nos EUA desde que um juiz federal liberou a circulação do livro em 1933, mas esta semana ele voltou a incomodar os americanos. A Apple exigiu que Robert Berry, ilustrador de uma adaptação em quadrinhos feita para a web, removesse algumas páginas de Ulysses seen para que sua versão, destinada aos usuários do aplicativo Ipad, fosse aprovada. As páginas continham a imagem de uma mulher com os seios de fora e o desenhista sugeriu retificá-la, suavizando-a com uma folha, sugestão rejeitada pela Apple. Tanto o artista como o desenhista de produção, Josh Levitas, que trabalham na adaptação há dois anos, disseram ao New York Times que pretendem atingir o público estudantil com a versão. Hoje, em Nova York, Tony Roberts e outros atores participam de uma encenação que traça paralelos entre a obra e a Odisseia de Homero. (Antonio Gonçalves Filho)

 

Finnegan's Pub. Rua Cristiano Viana, 358, tel.: 3062-3232. Nesta quarta, das 19h30 às 22h. Grátis

Joyce é celebrado no Bloomsday paulistano desde 1988. Foto: Reprodução

 

Confira o programa da festa

O Bloomsday 2010 no Finnegan´s Pub, conta com a participação da atriz Bete Coelho e do poeta Carlos Rennó, entre outros convidados, nesta quarta, 16, a partir das 19h30, com coordenação de Marcelo Tápia e Ivan de Campos.

Abertura: apresentação de música irlandesa tradicional, pelo grupo Irish Dreams.

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Breve apresentação, por Marcelo Tápia, do tema geral de Ulysses e do episódio "Ítaca", focalizado no evento deste ano, seguida de leitura do poema "Ítaca", de Kaváfis, em transcriação de Haroldo de Campos.

. Leitura de fragmento (evocador da questão das línguas celta e hebraica) do episódio "Ítaca", de Ulysses, em inglês, por Carlos Fernando Coelho Nogueira, e em português (em tradução inédita de Caetano Galindo), por Marcelo Tápia, Pérola Wajnsztejn e Stephen Little.

. Leitura de fragmento do Cântico dos cânticos, em transcriação de Haroldo de Campos, por Ivan de Campos.

. Leitura de poema de Chamber music, de Joyce, em tradução de Alípio Correia de Franca Neto, pelo tradutor.

. Leitura de fragmento de Giacomo Joyce, de James Joyce, em tradução de Paulo Leminski, por Antônio Carvalho.

. Leitura de fragmento final do monólogo de Molly Bloom (em Ulysses), em tradução de Haroldo de Campos, por Bete Coelho.

. Leitura, por Carlos Rennó, da letra "Eu disse sim", de sua autoria, baseada no monólogo final de Molly Bloom, seguida de apresentação da canção de mesmo nome, pelo cantor e compositor Antonio Pinto, parceiro na composição.

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. Apresentação, por Yun Jung Im, da canção "My House", de Lou Reed, e do poema "Rei dos Reis, Rei entre os Reis", de Delmore Schwartz, ambos por ela traduzidos.

. Leitura de um fragmento do romance Os loureiros estão cortados, de Édouard Dujardin (precursor no emprego da técnica do "monólogo interior"), em tradução de Hilda Pedrollo, por Carlos Fernando Coelho Nogueira.

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