PUBLICIDADE

Um Beethoven correto

Por João Marcos Coelho
Atualização:

O público que superlotou a Sala São Paulo no primeiro concerto da temporada 2011 da Osesp rearranjou-se em seus assentos fazendo certo ruído na passagem do Adagio Molto Cantabile para o Finale da Nona Sinfonia de Beethoven. Foi como se, até aquele momento, estivessem apenas entrando no clima para curtir a Ode à Alegria. Esta "aparente" ruptura justifica o comportamento. Numa crítica de 1853, um jornalista comparou Beethoven a um escultor que, depois de esculpir as pernas, tronco e braços de uma figura de mármore, molda num gesto desconcertante a cabeça colorida! Aliás, ele mesmo, após a estreia, considerou uma "besteira" a handeliana Ode à Alegria no finale. Pensou em substituí-la por um movimento instrumental. Felizmente desistiu.O fato é que quem já conhecia a peça - sobretudo os 200 que assistiram à palestra do professor da USP Samuel Titan Jr. naquele palco na noite anterior - deve ter percebido sua organicidade, apesar da radical introdução das vozes no finale. Apesar de muito executada no Brasil em ocasiões festivas, a Nona em geral é massacrada. A economia gestual do maestro Rafael Frühbeck de Burgos me lembrou a de Karl Böhm. E também seu controle da orquestra. O coro da Osesp, acrescido de membros do Coral Lírico Municipal, foi o maior destaque da noite. Isso não impediu alguns deslizes nas trompas, quase sempre muito expostas. Os solistas, competentes, não comprometeram. No geral, boa performance, que pode ser conferida hoje, ao ar livre, às 18h30, no Parque da Independência, com entrada franca.A Fanfarra sobre Motivo do Hino Nacional para metais e percussão, encomendada a Edino Krieger pela Osesp, não passa disso mesmo: 5 minutos de fanfarra previsível evocando motivos do Hino, que nada acrescenta ao conjunto da sua obra nem "enobrece" o próprio hino.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.