PUBLICIDADE

Um Barbeiro animado, entre o absurdo e a comédia

Por Crítica: João Luiz Sampaio
Atualização:

Enfim subiu ao palco a primeira produção da Cia. Brasileira de Ópera de John Neschling. O Barbeiro de Sevilha, de Rossini, ganhou montagem simples, pensada no contexto da itinerância a que se propõe, já que vai viajar por quinze cidades do País até o fim deste ano.Quem recebe o público é um Rossini às voltas com a composição da ópera. O maestro se posiciona e os músicos avisam: não há partituras. Ele sobe então ao palco e pressiona o compositor, que acaba lhe entregando as páginas soltas que são distribuídas para a orquestra. A ópera então pode começar.Detalhe: Rossini é uma figura animada, projetada em um telão que faz as vezes de cenário. É isso mesmo: a história é narrada num desenho animado, com o qual os cantores contracenam. A concepção é do cartunista americano Joshua Held, que cria um artifício interessante - é o próprio Rossini quem interpreta todos os personagens, travestido de acordo com a personalidade de cada um. E coube ao diretor cênico italiano Pier Francesco Maestrini formular a relação entre o "mundo real" do palco e a animação, buscando um todo integrado.O traço de Held tem grandes achados cômicos, é uma mistura de Tom e Jerry, Papa Léguas e Monty Python. Às vezes, é politicamente incorreto; em outros momentos, esbarra no nonsense. Funciona e diverte - mas, em especial no segundo ato, exagera um pouco, trazendo à cena alienígenas, Darth Vader e Godzilla, provocando riso, sim, mas criando um pastiche que sacrifica certa organicidade da narrativa. Musicalmente, este é um Barbeiro correto, com regência teatral de Neschling. O elenco, encabeçado por Leonardo Neiva, Luciano Botelho e Anna Pennisi, é homogêneo e eficiente vocal e cenicamente. O destaque da noite foi o baixo Pepes do Vale como um impagável Bartolo, preciso no tempo da comédia e nos usos que faz das possibilidades expressivas da partitura.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.