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Últimos dias para ver Uchida

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Por Redação
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Cinéfilos de carteirinha sabem de cor a lista dos grandes filmes de Akira Kurosawa, Yasujiro Ozu e Kenji Mizoguchi. Na Sala Cinemateca, prossegue, até domingo, a retrospectiva de Tomu Uchida, que está permitindo ao público assistir a filmes importantes de um dos grandes menos conhecidos do cinema japonês. Em todo o mundo, o culto a Uchida tem sido privilégio de poucos. No Brasil, entre esses poucos, contam-se admiradores de projeção, como os críticos e cineastas Rubem Biáfora, Carlos Reichenbach e Jairo Ferreira.Hoje, você ainda pode assistir a A Lança Ensaguentada. De sexta a domingo, a programação contempla Tragédia em Yoshiwara, Condenado pela Consciência e as três épocas de Espada Diabólica. Nascido no final do século 19 (em 1898), Uchida morreu em 1970. Ele começou como ator na época do cinema silencioso e, depois, foi assistente de Mizoguchi. Os primeiros filmes (como diretor) privilegiavam o social. Terra, dos anos 1930, descreve com realismo a vida dos camponeses.Não admira que Uchida tenha entrado para o Partido Comunista. Na prática, isso equivalia a ser contra o projeto militarista que lançou o Exército imperial na 2ª Guerra. Antes disso, os japoneses já haviam ocupado a Mandchúria chinesa. Uchida desertou e foi lecionar cinema ao revolucionários chineses. A vitória de Mao de alguma forma terminou por decepcioná-lo porque, nos anos 1950, ele voltou ao Japão e se reintegrou ao cinema do país, que ganhava projeção internacional.Datam dessa época as grandes sagas históricas, narradas com suntuosidade plástica e uma violência que já se manifesta nos títulos - Lança Ensanguentada, Espada Diabólica. Um dos últimos filmes do autor é o policial Condenado pela Consciência, de 1964. Do elenco, participa o jovem Ken Takakura, que mais recentemente filmou em Hollywood (Cartas de Iwo Jima, O Último dos Samurais, Memórias de Uma Gueixa etc.). Condenado é exemplar porque, além da violência, aborda temas sociais e a crise de consciência que atormenta os heróis de Uchida.Só que o estilo não se constrói somente pelos temas - Uchida, segundo seus admiradores, sempre foi sedutor pela força (e audácia) de sua imaginação. Até por sua experiência pessoal, de resistência ao militarismo e desencanto com o comunismo, a obra de Uchida é marcada pelo niilismo. O interessante é, na volta ao Japão, ele se deixou impregnar pela cultura tradicional. Tragédia em Yoshiwara, sobre um industrial amargurado pela marca de nascença que carrega na cara - e que desfigura seu rosto -, inspira-se no cabúqui. Essa forma de teatro data do período Edo, no começo do século 17, e resulta da junção dos três ideogramas para cantar, dançar e representar. / L.C.M.

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