TV exibe grandes documentários do cinema

O festival Quando os Documentários Vão ao Cinema no canal por assinatura Cinemax exibe um filme por dia, até sexta, começando hoje por Leni Riefenstahl, a Deusa Imperfeita

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Por Agencia Estado
Atualização:

Leni Riefenstahl, a Deusa Imperfeita abre hoje o festival Quando os Documentários Vão ao Cinema no canal por assinatura Cinemax. Será exibido um filme por dia, até sexta-feira, sempre às 22 horas. Na terça será a vez de Loucos por Cinema, na quarta Il Mio Viaggio in Italia, na quinta, Woody Allen, uma Vida em Filmes, e na sexta, A Decade Under the Influence. O foco da programação, como o título sugere, está no auto-exame. Cinema falando de cinema. No primeiro título programado, talvez esteja o caso mais agudo, o mais espinhoso, o de Leni Riefenstahl, morta ano passado com 101 anos. Leni é um desafio para os estudiosos de cinema e da cultura em geral. Atriz estreante em 1926, caiu nas graças de Hitler que, anos depois, a escalou para documentar o congresso do partido nacional-socialista em Nurenberg e, em seguida, os jogos olímpicos de 1936 em Berlim. Resultaram daí dois filmes tidos como clássicos do cinema documental, O Triunfo da Vontade e Olímpia. São obras inegavelmente impressionantes, fortes, inovadores sob alguns pontos de vista. Porém, como conceder esses créditos a alguém tão próxima dos líderes do 3.º Reich, a ponto de justificar especulações de que teria sido amante não apenas de Hitler, mas de Goebbels, seu ministro da propaganda? Em A Deusa Imperfeita, dirigido por Ray Müller, Leni nega tudo. Alega que nada sabia dos horrores praticados pelo regime para o qual trabalhava. E que queria fazer apenas isso - um bom e competente trabalho, e nada mais. A esperteza do documentário de Müller consiste em mostrar, nas entrelinhas, a disposição autoritária da mulher. A um certo momento, ela passa a dirigir as tomadas, alegando que Müller não sabia o que estava fazendo e que assim o filme não iria ficar bom. Briga com o diretor quando ele insiste em perguntar sobre suas relações com o regime. A filmagem vai por aí, entre trancos e picuinhas. Pode-se intuir bastante da personalidade da biografada apenas por essas intervenções, devidamente registradas pela câmera. O outro documentário da série, digno de toda a atenção, é o de Martin Scorsese, Il Mio Viaggio in Italia com nada menos 235 minutos de duração. O que havia de soturno (porém necessário) em A Deusa Imperfeita aqui se transforma em luz. Scorsese, filho de pais sicilianos, volta às suas raízes. Não apenas familiares, mas artísticas. Aliás, ambas se entrelaçam. Ele se lembra de ter visto em Little Italy, NY, onde nasceu e passou a infância, filmes que foram fundamentais para a sua formação. Entre eles, Paisà, Roma Cidade Aberta, de Roberto Rossellini, e outros dos mestres do neo-realismo. Assim, somado Uma Viagem Pessoal através do Cinema Americano com Il Mio Viaggio in Italia, Scorsese completa sua autobiografia cinematográfica. Da soma de influências cruzadas entre o cinema americano e o italiano nasce essa carreira, que é uma das mais originais e fortes da cinematografia contemporânea. Serviço - Quando os Documentários Vão ao Cinema. De hoje a sexta-feira, às 22 horas. Cinemax (operadoras/ canais: Directv 531; TVA, 49)

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