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TV demais deixa crianças obesas

Pesquisa revela que a maioria dos jovens com problemas de excesso de peso passa mais de cinco horas diárias em frente da televisão

Por Agencia Estado
Atualização:

O cardápio variado de programas infantis - tanto na TV aberta quanto na TV por assinatura - é um convite perigoso para que as crianças passem horas diante de um aparelho de televisão e deixem de praticar atividades tão necessárias ao seu crescimento. Mesmo sendo uma programação educativa, confiar à TV a função de babá eletrônica pode trazer problemas para a saúde da criançada, a começar pelos quilinhos a mais na balança, já que beliscar guloseimas nesse momento também é um hábito muito comum entre os telespectadores mirins. A vida sedentária iniciada na infância conduz, facilmente, as crianças à obesidade, algo que poderá acompanhá-las por toda a vida. Na opinião de profissionais da saúde que convivem diariamente com esses pacientes, a televisão é um dos principais agentes responsáveis pela obesidade infanto-juvenil, que vem se alastrando em índices assustadores no País. "Assim como acontece nos Estados Unidos, as crianças brasileiras dormem oito horas por noite, passam quatro horas na escola e assistem TV por uma média de seis horas ao dia, ou seja, ficam a maior do tempo inativas", diz o pediatra Nataniel Viuniski, coordenador do departamento de obesidade infantil da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade) e autor do livro "Obesidade Infantil _ Um Guia Prático" (ed. Epub). De acordo com a nutricionista Isa de Pádua Cintra Sampaio, coordenadora do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo), um questionário respondido por cerca de 150 jovens obesos atendidos pelo programa denunciou que a maioria deles passa mais de cinco horas diárias de olho na TV. "Muitos confessaram permanecer assim por mais de sete horas seguidas", revela Isa. "Nos EUA, estudos apontam que o público mirim, ao ver televisão por uma média de cinco horas diárias, apresenta 35% mais chances de deparar-se com problemas relacionados à obesidade". Além de contribuir para o estado de total inércia, a televisão em excesso também acaba influindo diretamente nos hábitos alimentares de crianças e adolescentes. "Eles tendem a ´beliscar´ alguma coisa enquanto ficam vidrados na tela. E os itens preferidos são sempre salgadinhos, chocolates, biscoitos e coisas do gênero. Trata-se de alimentos extremamente calóricos e de fácil digestão, isto é, satisfazem por pouco tempo. Além disso, ficam distraídos e não prestam atenção naquilo que comem, sem mastigar direito", expõe Isa. "Por esse motivo, costumamos orientá-los a nunca comer em frente à TV". Uma tentação difícil de ser superada, ainda mais quando o jovem espectador está diante de desenhos, novelas e filmes violentos que aparecem a qualquer momento e sem nenhum critério. "Todas as fantasias negativas geram um grau de ansiedade. Dependendo da história da criança, tais imagens poderão levá-la ao ato instintivo de comer", observa o endocrinologista Luciano Negreiros, especializado em obesidade infantil e membro titular da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática. Negreiros ilustra o comentário lembrando dos adultos diante de cenas de extrema tensão - como durante o jogo do Brasil numa Copa do Mundo. "Os adultos também não resistem em petiscar algo para controlar os ânimos", aponta. O emocional dos espectadores mirins é ainda mais atormentado com a batelada de comerciais de quitutes e delícias que instigam a vontade de comer sem parar. Uma recente pesquisa realizada pelas nutricionistas Clarissa Hoffman e Patrícia Martins, da Unb (Universidade de Brasília), revelou que 15,9% das propagandas feitas na TV vendem alimentos. Nos canais por assinatura, o índice aumenta para 37,3%. Como se não bastasse, na televisão aberta, nove entre cada 10 peças publicitárias anunciam itens altamente gordurosos. Para o público infantil, a grande armadilha tem sido os anúncios de alimentos que vêm com brinquedinhos como prêmios. "Em apenas alguns segundos, as crianças são convencidas a pedir o que viram aos pais só para poder ganhar o presente. E, por conta disso, acabam comendo mais", critica o endocrinologista e presidente da Abeso, Márcio Mancini. Segundo ele, a associação está se organizando para lançar uma campanha de prevenção e tratamento contra a obesidade no País. "Já participamos de uma audiência com o ex-ministro José Serra, onde expusemos a necessidade de regulamentar a quantidade de comerciais de alimentos na televisão, principalmente durante a programação infantil", adianta. "Também estamos unindo forças para conseguir a proibição dos brindes vendidos junto aos alimentos, a exemplo do que já ocorre na Inglaterra".

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