PUBLICIDADE

TV Cultura respeita, mas discorda de seu ombudsman

Oswaldo Martins vem pedindo o fim do jornalismo na emissora, mas para a emissora, "sua opinião não expressa nem reflete a opinião da TV Cultura"

Por Agencia Estado
Atualização:

A TV Cultura não cogita sequer discutir as críticas que o ombudsman da emissora, Oswaldo Martins, vem fazendo ao jornalismo do canal por meio do site da casa (www/tvcultura.com.br/ombudsman). Não há por que duvidar. Faz mais de "dezesseis meses", conforme relata o próprio Martins em texto assinado em 7 de fevereiro passado, que o ombudsman vem estampando na web observações que não são atendidas pela direção da emissora. A Cultura se manifestou oficialmente a pedido da reportagem. Informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que respeita a opinião de seu ombudsman, mas "é importante sublinhar que a sua opinião não expressa nem reflete a opinião da TV Cultura". Para o professor da Escola de Comunicação de Arte (ECA) da USP Laurindo Leal Filho, a questão é delicada. "Extinguir o jornalismo da emissora é uma proposta radical", diz. Não que o professor, um expert no tema jornalismo e respeitado nos domínios da TV pública, veja no jornalismo da Cultura um trabalho irrepreensível no quesito qualidade. "Eu concordo com ele no que diz respeito à necessidade de melhorar qualidade e conteúdo, talvez fosse até o caso de inovar na forma. Acho que tem faltado algum pluralismo editorial, mas daí a defender a extinção do jornalismo, isso não. Não concordo." Diretor do Canal Universitário e igualmente especialista no assunto, Gabriel Priolli também discorda do ombudsman da Cultura. "Acho que a crítica não procede. Primeiro, porque não é uma questão de opção - ter ou não jornalismo. A Cultura é uma TV aberta e a legislação obriga que 5% da grade tenha jornalismo", diz Priolli. "Independentemente do legal, não vejo como extinguir o jornalismo de uma emissora que tem 40 anos de tradição na área. Ela pode estar enfrentando algum problema conjuntural, então é isso que tem de ser enfrentado." Laurindo endossa. Diz que o mínimo que se pode esperar de uma TV pública, mantida com verbas públicas, é que ela preste um serviço de jornalismo eficiente. "Não há nenhum interesse para o telespectador e para o contribuinte paulista em se acabar com o jornalismo", fala Priolli. "Preservar o espaço do jornalismo me parece essencial e é um patrimônio da cidadania paulista que precisa ser preservado." O texto de Martins em defesa do fim do jornalismo da emissora data de 23 do mês passado. Ganhou fôlego na semana passada, quando alguém resolveu associar uma antiga reivindicação do ombudsman à mudança de comando da direção do setor - Pola Galé, que vinha exercendo o cargo interinamente, será substituído por Albino Castro - ex-SBT e Gazeta - a partir da próxima segunda-feira. Os dois episódios não mostram mais que coincidências. A Cultura vem procurando um diretor para ocupar a função oficialmente há mais de um ano. Martins defende que o jornalismo factual saia de cena e que o dinheiro gasto na produção de noticiários (25% do orçamento da casa) seja destinado a documentários bem-acabados. Procurado pela reportagem, o presidente da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da Cultura, não foi localizado. Ele está em Cannes, para a Mip, uma das principais feiras anuais da TV mundial.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.