TV brasileira tenta nova linguagem

Parecia espontâneo, mas os créditos revelavam que era um "Roteiro de Patrícia Rubano". Mais do que isso, o programa Casa dos Artistas de Silvio Santos propôs uma questão de linguagem

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Por Agencia Estado
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No final, teve até beijo de novela - que o reality show pretendia que acreditássemos que era espontâneo. Mas os créditos que subiam diziam o contrário. "Roteiro: Patrícia Rubano." Mais que uma equação de roteiro, a Casa do Silvio propôs uma questão de linguagem. Os picos de audiência que as TVs populares festejavam, até então, fundava-se no trinômio ´mulher barbada-mulher pelada-homem desfavorecido´. O freak show do Ratinho contra a deficiência física do Latininho. Desta vez, havia até sutileza. No meio da algazarra final, Marta Suplicy - prefeita da maior cidade da América Latina - ajeitava carinhosamente o cabelo do filho que dava entrevista, mesmo que o cabelo com baba de ovo fosse impossível de ajeitar. A novidade agora esteve na forma como as coisas foram apresentadas, e não no que representavam. Isso sinaliza uma evolução no conceito de TV popular. E, no fim das contas, a democracia. Foram quatro ou cinco garotos de 13 anos, por telefone, que decidiram o destino da Casa dos Artistas. Tiraram a ´chorona´ Mari Alexandre, puniram a polyanna Patrícia Coelho, esculhambaram o Frotinha. Um deles até deu uma lição de moral no Frota, acusando-o de dizer muito palavrão num horário pouco adequado. Um público moralista, que concordou com a tese chauvinista de que Nana Gouveia fosse "oferecida". Um público assistencialista, que faz justiça social com dinheiro na caixinha. Um público romântico, que premiou o conto de fadas, esperando ver Supla num cavalo com sua Gata Borralheira na garupa. Todo mundo teve sua chance. Durou "9 semanas e meia", como brincou o apresentador sorridente - mestre em tornar tudo uma festa íntima, lendo os gossips dos jornais, comentando vendas de discos e prêmios de críticos. E foi, sobretudo, uma festa popular, com dezenas de donas de casa gritando histéricas "Silvio, eu te amo". Sua vitória é dupla: comercial e institucional.

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