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Turquia comemora 1.º Nobel concedido a um cidadão do país

Prêmio foi entregue no mesmo dia em que foi aprovada uma medida delicada para o país: o Parlamento francês decidiu punir os "negacionistas" do genocídio armênio em 1915

Por Agencia Estado
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A concessão do Nobel de Literatura a Orhan Pamuk, primeiro turco a receber o prêmio na história, foi muito comemorada no país. No entanto, muitos cidadãos lamentaram a "triste coincidência" de que o prêmio foi entregue no mesmo dia em que foi implementada uma medida delicada para a Turquia. O Parlamento francês decidiu, nesta quinta-feira, punir os "negacionistas" do genocídio armênio em 1915. Pamuk ganhou notoriedade dentro e fora da Turquia não só pelos seus livros, mas por ter afirmado em entrevista a uma publicação alemã que 1 milhão de armênios tinham morrido nas mãos dos turcos em 1915, acusação que o levou aos tribunais - com sua posterior absolvição - e que lhe valeu inimigos entre os círculos nacionalistas. Segundo o ministro de Exteriores turco, Abdullah Gul, enquanto alguns assuntos cotidianos serão um dia esquecidos, o prêmio Nobel será lembrado para sempre. "O Nobel é um prêmio muito importante, em particular o de Literatura, e é importante que a Turquia o consiga. Estou feliz que um turco tenha levado", disse. O presidente do Comitê de Exteriores do Parlamento turco, Mehmet Dulger, disse ter lido e gostado de todos os livros de Pamuk. "É importante que um turco tenha o prêmio Nobel, e não devemos ver isso como um ataque à Turquia. O que ele disse sobre os armênios foi mal", concluiu. As pessoas comuns começaram a se acostumar com o nome de Pamuk após seus casos na Justiça depois de o escritor lamentar os massacres de armênios e curdos, e também por defender a liberdade de expressão. Alguns veículos de comunicação nacionalistas chegaram a afirmar que todas essas afirmações eram apenas autopropaganda para conseguir o Nobel. O crítico Zekin Coskun disse que queria "que tivessem dado o prêmio outro dia (diferente ao da votação no Parlamento francês). Temo que os que atacavam (Pamuk) no passado podem se armar agora de novos argumentos e dizer que este Nobel é graças a suas declarações sobre os armênios". No entanto, a maioria dos críticos literários insistiu em que o ativismo político de Pamuk não teve a ver na concessão do Nobel. "É um grande escritor. Essas coisas (as posturas políticas de Pamuk) não me interessam", disse o subsecretário do Ministério da Cultura turco, Mustafa Isem. Para Isem, como para muitos na Turquia, o que realmente importa é que o prêmio a Pamuk abrirá a literatura turca para o mundo inteiro, e isso beneficiará a cultura do país. Perihan Magden, jornalista e escritora também perseguida por seus artigos, disse que Pamuk pode ser para a literatura turca o que Gabriel García Márquez foi para a literatura sul-americana. O escritor ainda não apareceu ao público turco, mas seu editor, Ahmet Insel, da editora Iletisim, declarou seu orgulho pelo prêmio. "Pamuk é o escritor mais representativo do romance moderno no mundo". Pamuk "conseguiu este prêmio como romancista, (mas) também estamos orgulhosos por suas corajosas declarações e sua atitude política. Além disso, isso ajudará a ficar conhecido a toda a literatura turca". Yasar Kemal, escritor curdo de expressão turca, parabenizou Pamuk e disse confiar em que "continue escrevendo com o mesmo ímpeto". "Tenho certeza que continuará acreditando no que acredita", disse. O político nacionalista Deniz Baykal preferiu hoje esquecer suas diferenças com Pamuk e também parabenizou o escritor. "Este prêmio mostra o valor universal da literatura e mostra, portanto, que seu nível internacional está garantido".

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