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Túmulo de Machado de Assis é vendido por R$ 120 mil

Por Agencia Estado
Atualização:

Quatro dias após publicar em um anúncio de jornal a venda do carneiro 1.359, da quadra 39, do Cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul, os herdeiros de Machado de Assis conseguiram vender o túmulo que pertenceu ao escritor por R$ 120 mil. A nova proprietária, cujo nome não foi fornecido, é uma mulher, de mais de 50 anos, moradora da Avenida Vieira Souto, em Ipanema. "Ela conversou comigo por telefone e afirmou que queria comprar o túmulo pelo seu valor histórico e pela sua boa localização", disse o corretor e marmorista Antônio Barbosa, que fez a negociação. Machado, que morreu em 1908, quatro anos depois de sua mulher, Carolina, adquiriu o carneiro em 2 de dezembro de 1899. O jazigo fica em lugar considerado nobre no Cemitério São João Batista, próximo ao Cruzeiro, e vizinho de túmulos de outras pessoas famosas como Santos Dumont, Carmem Miranda e Vicente Celestino. No final da tarde desta quarta-feira, a Santa Casa, que administra o cemitério São João Batista, distribuiu nota informando que "as transferências de sepulturas perpétuas não podem ser feitas sem a sua interveniência". Ainda de acordo com a Santa Casa, "as negociações irregulares de perpetuidades , intermediadas por Antonio Barbosa estão sendo apuradas pelo Juízo da 14.ª Vara Criminal, processo n.º 98.001.053.458-9". O comerciante, porém, se defende dizendo estar respaldado na lei. De acordo com ele, há o decreto estadual 3.707, assinado pelo governador da Guanabara, Francisco Negrão de Lima, de 6 de fevereiro de 1970, que permite este tipo de transação. "A lei diz que é possível fazer transferências desde que o túmulo esteja vazio e com todo o seu pagamento quitado", explicou Barbosa. Sobrinha neta do escritor, Ruth Leitão de Carvalho Lima, de 88 anos, afirmou que a família decidiu se desfazer da sepultura depois que os restos mortais de Machado de Assis e de sua mulher, Carolina, foram transferidos, em 1999, para o mausoléu da Academia Brasileira de Letras (ABL). "A família tem outras sepulturas e eu certamente não seria enterrada ali", disse a sobrinha-neta do casal Assis. Ruth, que vai se encontrar com a compradora na sexta-feira para assinar os papéis de transferência, está satisfeita com a venda. "A vontade dele (Assis) prevaleceu. O que ele queria era ficar eternamente ao lado da minha tia Carolina", comentou. Segundo a herdeira do casal, há alguns anos o então presidente da ABL, Austregésilo de Athayde pediu permissão à família para guardar os restos mortais do fundador da Academia no jazigo dos imortais. "Minha mãe não deixou porque eles só queriam transferir tio Machado. Na época, não havia mulheres na academia, e por isso não queriam levá-la", lembrou. Em 1999, quando os restos mortais do casal foram para o mausoléu da ABL, Ruth resolveu doar à instituição a tampa da sepultura. De mármore de Carrara, adornada com uma coroa e uma roseta de bronze e com dedicatórias de vários escritores, a lápide agora faz parte do patrimônio da ABL. O anúncio de venda do carneiro, que não revelava o nome do escritor, foi publicado no sábado. Desde então, conta Antônio Barbosa, a sua firma, que fica próxima ao Cemitério São João Batista, recebeu mais de cem telefonemas de pessoas curiosas em saber quem era o proprietário da sepultura.

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