Tributo a Casé e seu saxofone

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Por Redação
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Há músicos geniais que são cultuados apenas pelos próprios músicos. O caso brasileiro mais emblemático é o do saxofonista Casé (1932-1978). Ele rodou centenas de cidades no País, como integrante do naipe de saxofones das mais famosas orquestras de baile dos anos 50/70, como as de Elcio Álvares, Simonetti e Silvil Mazzucca. Brilhou no quarteto de Dick Farney, teve um octeto famoso. Mas seu nome só provoca espanto e admiração mesmo entre músicos. Morreu 32 anos atrás, num 30 de novembro, num quarto de hotel da boca do lixo paulistana. Tinha só 46 anos. O suficiente, porém, para fazer dele o mais talentoso sax-alto que produzimos, capaz de improvisar com igual originalidade sobre standards do jazz e clássicos da música popular brasileira. Músico com DNA próprio num tempo em que macaqueava-se bem o jazz norte-americano. Por isso, Major Holley e vários integrantes da big band de Woody Hermann embasbacaram-se com seu sax refinado, que ora emulava Paul Desmond (por pressão de Dick Farney, fã confesso do quarteto de Dave Brubeck), ora Cannonball Adderley ou o que o distinto público desejasse. Mais justo talvez seja aproximá-lo de outro sax-alto maldito acima do equador, o genial e pouco conhecido Art Pepper.Amanhã, a partir das 21 horas, três saxofonistas fazem um tributo a Casé num de seus templos, o Bar Portinari, do Hotel Cambridge (rua Álvaro Carvalho, 53, que nos anos 50/80 chamava-se Claridge). Não é um daqueles grandes eventos "oficiais" - mas fique certo de que haverá música da boa. Improvisarão três gerações de saxofonistas: Carlos Alberto Alcântara, hoje com mais de 70 anos, que tocou tenor no grupo de Casé; Gerson Galante, que estudou sax com o mestre arredio; e um jovem talento de 23 anos, Cássio Ferreira. Os dois primeiros integram a Jazz Sinfônica. Na "cozinha", o piano de Iuri Salvanini, o contrabaixo de Marinho Andreotti e a bateria de Nelson Essi.O selo Sesc vem tentando lançar uma caixa de 5 CDs com gravações antológicas hoje inacessíveis, como a do quarteto com Dick Farney e com o grupo de Major Holley, e inéditas, por iniciativa do jornalista Fernando Lichti de Barros, autor do livro, Casé - Como Toca Esse Rapaz (disponível em seu blog ou em papel, em edição da Nova Ilusão Editora). Questões de direitos da Sony põem em risco este projeto importantíssimo para a história da música instrumental brasileira. A título de degustação, curta uma hora de grande música na Rádio Casé, que Fernando disponibiliza em seu blog http://saxofonistacase.blogspot.com/. Não deixe de ouvir ao menos as notáveis versões de Copacabana (1958, com Major Holley, Moacir Peixoto e Jimmy Campbell) e Risque (1956, Dick Farney, Xu Viana e Rubinho Barsotti).

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