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Trem literário discute tradução

Em Madrid, segunda parada do Expresso da Literatura - Europa 2000, os cem escritores que participam da viagem questionam o reduzido campo da tradução

Por Agencia Estado
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Deslumbrados pela diversidade cultural maior do que poderiam imaginar, os cem escritores que desde ontem percorrem a Europa a bordo do Expresso da Literatura - Europa 2000, já chegaram a uma primeira conclusão, em sua parada em Madrid: o campo da tradução está muito reduzido. Carlos Casares, um dos quatro escritores espanhóis que viajam neste trem peculiar, contava hoje à imprensa, que já no primeiro trajeto do expresso, de Lisboa para Madrid, constatou que "temos uma visão muito deformada da Europa e a primeira coisa que chama a atenção é que nós, os europeus ocidentais, somos minoria". Viajam no trem cem escritores procedentes de 43 países. Durante os próximos dois meses eles vão percorrer 7 mil quilômetros de estrada de ferro do velho continente e visitarão 19 cidades, com o objetivo de difundir a idéia de Europa como espaço multilíngüe e multicultural. A maioria, desde armênios, lituanos a macedônios ou croatas, formam "uma enorme variedade de gente e cultura sobre as quais não sabemos nada. Ontem, por exemplo, vi pela primeira vez como se escreve o georgiano", explicou Casares. Os escritores chegaram ontem a Madrid para participar de uma série de eventos culturais que têm como objetivo primordial oferecer aos cidadãos a possibilidade de aproximar-se de culturas e literaturas que dificilmente viajam assim sozinhas, devido às escassas oportunidades de tradução. O alemão Thomas Wohlfahrt, responsável pelo projeto, reclamou hoje, durante entrevista coletiva na Casa da América, em Madrid, por um "maior apoio" ao campo da tradução. "Às vezes é impossível encontrar tradutores", disse referindo-se obviamente às línguas minoritárias. Ele assinalou que a "Europa é como um país com quase 150 línguas" e que a literatura é a arte em que estas se desenvolvem. Wohlfahrt difiniu os passageiros deste trem como "uma orquestra na qual todos os instrumentistas são solistas". E explicou que uma das possibilidades que podem ser desenvolvidas através deste projeto é a criação de "uma rede européia de instituições literárias" que fomente a comunicação. O diretor-geral do Livro, Fernando de Lanzas e Luis Miguel Enciso, presidente da Sociedade Estatal Espanhola Novo Milênio, representantes de duas das instituições que patrocinam esse trem literário, participaram hoje dos primeiros encontros que os escritores tiveram em Madrid. Enciso assinalou que o trem "vai a caminho de estabelecer a harmonia, que é a meta suprema da convivência", sublinhando que a palavra representada por cada um dos escritores "é um dos maiores dons que tem o ser humano". Nesta primeira jornada, os escritores do Expresso, que vão produzir um diário ao longo da viagem, visitaram a Feira do Livro de Madrid e participaram de alguns colóquios, nos quais refletiram, por exemplo, sobre a condição da Espanha como ponte entre as literaturas da Europa e América.

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