
27 de março de 2013 | 02h13
...um copinho d'água com a delicadeza de quem detona uma metralhadora: "Água!! Água!! Agagagagágua!!!".
"Que susto!"
(Uma metralhadora de língua presa e evidentemente um pouco gaga.)
"Não, obrigada."
A desvantagem é imaginar que você vai chegar atrasada ao jantar de comemoração dos seus dezoito anos de casamento. No carro ao lado um maluco que gritava ao celular agora chora como um bebezinho faminto. Chego a sentir pena. Alguém poderia pensar que ele discutia com a esposa (olha eu, enxergando casamentos em crise em tudo quanto é canto) e que depois de expelir uma labareda de palavrões começou a chorar dizendo: "Não é nada disso, amor, estou descontrolado, desculpe…".
Pode ser. Mas acho que não, tudo não passa de uma reação emotiva ao trânsito. Um surto de stress de trânsito, só isso. Talvez ele esteja falando com seu psicanalista, desabafando, explicando que não aguenta mais ficar rotineiramente parado duas horas, imobilizado no meio da Linha Vermelha, angustiado, impregnado de sangue e formol depois de passar o dia ministrando aulas de dissecação de cadáveres na faculdade de medicina..."
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