Trapaceiro mirim chega para destronar Harry Potter

Artemis Fowl, um garoto que se orgulha de ser um gênio do crime, é o personagem do irlandês Eoin Colfer que pode bater a saga da escocesa J.K. Rowling

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Por Agencia Estado
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Harry Potter já tem um rival à altura. Não, não se trata de mais um pérfido personagem criado pela escocesa J.K. Rowling que, com quatro livros contando a saga do garoto órfão à procura de um assassino, em viagens carregadas de misticismo e valores nobres, já se transformou em um estrondoso sucesso de vendas (110 milhões de exemplares em todo o planeta, em 47 idiomas). O adversário em questão é um garoto de apenas 12 anos, orgulhoso de ser um brilhante gênio do crime. Trata-se de Artemis Fowl, principal personagem do livro escrito pelo irlandês Eoin Colfer, que a editora Record lança nesta semana, esperançosa de se aproximar dos números conseguidos pela Rocco que, com os quatro livros da série Potter, já vendeu mais de 500 mil exemplares. Artemis Fowl - O Menino Prodígio do Crime (288 páginas, R$ 25) chega às livrarias brasileiras na mesma época em que o original foi lançado, no ano passado, ou seja, em um momento em que o mercado editorial ainda contabilizava o sucesso do quarto volume da série Harry Potter. No Reino Unido, as cifras iniciais foram animadoras: US$ 750 mil em vendas nos dois primeiros meses, além da expectativa de US$ 1,5 milhão na negociação com traduções. Mais a venda dos direitos da versão cinematográfica para a Miramax e a Tribeca Films (produtora de Robert De Niro), por US$ 500 mil. Os ingredientes inusitados da história são a principal atração. Artemis é o único herdeiro do clã Fowl, uma lendária família de personagens do submundo, célebres na arte da trapaça. O garoto imagina um plano para recuperar a fortuna da família, após o desaparecimento misterioso do pai. Seu plano poderia derrubar civilizações e mergulhar o planeta em uma guerra entre espécies. O garoto inicia seu plano em Ho Chi Minh, a calorenta capital do Vietnã, em pleno século 21. Lá, aliando tecnologia de ponta a seus dons criminosos, ele chantageia uma fada decadente para roubar seu Livro, pequeno objeto que permitirá desvendar os segredos do Povo das Fadas e descobrir onde está guardada uma enorme reserva de ouro. O único problema é que o Livro está em gnomês, o idioma das fadas, um alfabeto ancestral jamais decifrado por um humano. De volta à sua mansão na Irlanda, ele trabalha freneticamente, em um computador de última geração, até conseguir desvendar o código e traduzir o texto. Ao longo das páginas, surge uma série de personagens de características marcantes. Além do próprio Artemis, há Butler, empregado fiel cuja tradição familiar é servir os Fowl; Holly Short, uma elfo valente e irritada da LEPrecon, a unidade de elite da polícia das fadas; além de um exército de gnomos, duendes, elfos e trolls, com armas muito mais avançadas que as dos humanos. Anti-herói - O escritor Eoin Colfer, um tímido mas eloqüente professor primário irlandês de 36 anos, levou um ano para escrever a história, trabalhando diariamente. "Pretendia criar um anti-herói, um menino que fosse espirituoso e sarcástico", comentou, em entrevista à imprensa inglesa no ano passado. "Se em uma ou duas oportunidades ele é flagrado fazendo boas ações, na verdade, é por dinheiro." Essa é a principal diferença entre Artemis e Harry Potter, pois a ambigüidade moral do primeiro dificulta sua condição de herói - Potter também não é um modelo de virtude, mas suas ações são mais elogiáveis. Colfer procurou criar poucas semelhanças com o personagem de J.K. Rowling e a que mais se destaca é o problema que ambos têm com os pais: enquanto os de Harry Potter foram assassinados pelo vilão Voldemort, o pai de Artemis desaparece misteriosamente e a mãe, catatônica, passa toda a história sob efeito de pílulas. O processo de criação foi cuidadoso. Colfer conta, por exemplo, que teve dificuldade para escolher o nome de seu herói - buscava algo misterioso e de impacto, "como Titus Groan ou Hannibal Lecter". "Tentei várias opções, como Bartolomeu, Arquimedes até encontrar Artemis em um site de nomes gregos: quando bati o olho, percebi que tinha encontrado", conta ele, que teve menos dificuldade com o sobrenome do garoto: Fowl, em inglês, tem a mesma sonoridade de "foul", que significa "horrível". A opção por criar um mundo futurista de fadas e gnomos também seguiu uma linha estratégica: Colfer lembra que cresceu ouvindo histórias sobre mitos e lendas irlandesas e resolveu atualizá-las à luz das novas tecnologias, promovendo a mistura de aparelhos de última geração com geringonças com mil utilidades, algo que, acredita, é apreciado pelas crianças. "O meu preferido é o despertador que projeta a hora no céu, em grandes números vermelhos", diverte-se. Colfer esquiva-se, porém, quando o assunto é financeiro ("Quem cuida disso é meu agente"), mas é evidente que a ambição de seus editores britânicos é a de transformá-lo em um novo fenômeno como J.K. Rowling que, segundo a revista Forbes, figura como o terceiro escritor mais bem pago do mundo, abaixo apenas de Tom Clancy e Stephen King. Uma pesquisa da revista revela que a autora escocesa fatura cerca de US$ 75 mil por dia.

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