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Trajetória de sucesso pessoal pode comover votantes da Academia

Por Análise: Luiz Zanin Oricchio
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Quem passa pelos corredores do metrô de Paris não deixa de notar outdoors com o rosto do presidente Lula. São anúncios da revista semanal Les Inrockuptibles, que traz a matéria de capa Brésil - Le Pays où la Gauche a Réussi (Brasil - o País Onde a Esquerda Deu Certo). Não é caso isolado. No noticiário internacional, o Brasil é visto como o país emergente da vez. E essa nova prosperidade é associada aos dois governos de Luis Inácio Lula da Silva. No exterior, Lula é "o" cara. Foi provavelmente pensando nisso que a comissão do Oscar escolheu Lula - o Filho do Brasil, de Fábio Barreto, para tentar uma das vagas na premiação da Academia. A ideia é pegar carona na popularidade do personagem e transferi-la ao filme. A poucos dias do primeiro turno das eleições, em que a candidata de Lula aparece à frente nas pesquisas, não deixa também de ser uma maneira de politizar a escolha. A comissão, formada por gente que realmente entende de cinema, segue o molde das anteriores - tenta adivinhar o que se passará na cabeça de outra comissão, aquela que seleciona os finalistas do mais midiático dos prêmios do cinema internacional. É uma visão, digamos assim, estratégica, que tenta antever tendências e motivações alheias. No caso, esperam comover os votantes com a história do menino pobre que atravessa uma série de dificuldades na vida até chegar ao cargo máximo do seu país. Pode dar certo.Por ocasião da estreia de Lula foram apontados seus méritos e limitações. Entre os primeiros, um bom começo de filme, com cenas da casa pobre no sertão, num clima de Cinema Novo muito bem realizado. Falou-se muito, também, na bela atuação de Gloria Pires no papel dessa Mãe Coragem que cria seus filhos sem ajuda do marido e leva a família ao Sudeste por mera questão de sobrevivência. Gloria é impecável. Entre as insuficiências, destaca-se a visão um tanto chapada do personagem e o expurgo de questões políticas da trajetória do metalúrgico rumo à presidência. O Lula real, com seus méritos, arestas e falhas, tem personalidade mais complexa que o Lula do filme. No entanto, convém lembrar, esses procedimentos simplificadores, que provocam restrições de ordem crítica e de fato empobrecem a obra, são muito comuns no cinema americano. Ou seja, na terra do Oscar.

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