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"Trainspotting" ganha versão teatral

Montagem carioca de Harry Gibson, adaptada do romance de Irvine Welsh, deve ser a sensação do Fringe, a mostra paralela do 10º Festival de Teatro de Curitiba

Por Agencia Estado
Atualização:

O Fringe está ganhando consistência. A mostra paralela de teatro do 10.º Festival de Teatro de Curitiba, que apresenta 106 espetáculos em 11 dias, grande sensação do FTC em 2000, até este momento estava morna, insatisfatória. Boas montagens, como a cáustica Bárbara não lhe Adora, do carioca Henrique Tavares, eram exceção. Predominavam trabalhos equivocados ou amadores. Esse quadro começa a mudar. A montagem carioca Trainspotting, adaptada por Harry Gibson do romance de Irvine Welsh, tem tudo para ser a sensação do Fringe 2001. A adaptação teatral de Gibson é ótima, e muito diferente do filme de Danny Boile, que revelou Ewan McGregor. A história de Marc, jovem heroinômano escocês, ganha no palco uma versão sombria, que dispensa até o discreto otimismo do filme. A droga é tratada sem romantismo. Com direção segura de Luiz Furlanetto, formado pelo CPT de Antunes Filho, Traispotting leva para o palco um grupo de atores jovens cheios de garra e talento. Pedro Osório, que faz Marc, o desencantado herói da história, Gustavo Louchard, como o violento Sick Boy, e Augusto Negrelly, na pele do truculento traficante Franco, oferecem ao público desempenhos tensos, eletrizantes. São nomes de que ainda ouviremos falar, com certeza. Mas não são os únicos destaques. Todo o elenco apresenta uma segurança que impressiona e envolve o espectador. Outra boa estréia no Fringe foi Dilemma. Criado na Holanda por Kris Niklison, o espetáculo é uma espécie de Deadly em versão feminina. Deadly era a história da crise de um casal, concebida por Rodrigo Matheus, dirigida por Sandro Borelli, narrada por meio de acrobacias no trapézio. Dilemma fala de duas mulheres, vividas por Kris Niklison e Monica Alla, que hesitam em assumir um caso de amor, mas acabam sendo impelidas uma para a outra pela paixão. A expressão desse amor ganha belas formas no trapézio e na corda. As acrobatas são experientes e expressivas. Kris Niklison ousou falar do amor lésbico com alegria, sem culpa. Sua simpatia e o texto divertido que diz direto para o público são ingredientes a mais que seduzem a platéia. A principal atração de amanhã à noite na Mostra de Teatro Contemporâneo do 10.º Festival de Teatro de Curitiba já passou por São Paulo com sucesso. Suburbia, de Eric Bogosian com direção de Francisco Medeiros, interpretada por um punhado de jovens e talentosos atores, inicia amanhã à noite sua breve temporada no Teatro Guaíra. No Teatro da Reitoria, os mineiros do Galpão continuam a carreira de Um Trem Chamado Desejo, musical escrito por Luís Alberto de Abreu e dirigido por Chico Pelúcio. O grupo Galpão trata em Um Trem dos bastidores do teatro, vistos a partir da ótica de um grupo mambembe de Belo Horizonte, nos anos 30. Com apoio da boa música de Tim Rescala e da inventiva cenografia de Márcio Medina, a trupe mineira levou para o palco uma história divertida e bem narrada. Um Trem não atinge o mesmo nível das melhores realizações do Galpão, responsável por algumas das montagens mais marcantes do teatro brasileiro nos anos 90, entre elas Romeu e Julieta. Mesmo assim, é um trabalho a que se assiste com muito prazer. Os atores foram ovacionados pela platéia na estréia, segunda-feira.

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