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Tony Ramos: "TV brasileira não tem identidade"

Em entrevista, o veterano ator cobra responsabilidade do veículo e defende que ele seja sabatinado "para saber qual é sua função"

Por Agencia Estado
Atualização:

Enquanto descansa da TV, Tony Ramos sua a camisa no Teatro Hilton como um dos protagonistas do espetáculo Novas Diretrizes para um Tempo de Paz. Dentro de quatro semanas ele embarca com a peça para uma turnê em Portugal. Veteraníssimo em telenovelas, Tony diz que desde os anos 70 ouve a história de que o gênero está esgotado. Nesta entrevista o ator fala da marcação que sofre por causa do seu jeito de ser, do convite que recebeu de Guel Arraes e Jorge Furtado para participar do Cena Aberta, série que estréia dia 18 de novembro na seqüência de Cidade dos Homens, e da vontade de fazer um programa com platéia. A que você atribui o sucesso de "Mulheres Apaixonadas"? Manoel Carlos humanizou as personagens. Veja que maravilhoso o trabalho do Dan (Stulbach) como o vilão Marcos, ele deu alma à personagem. O seu cabelo foi assunto durante toda a novela. Você gostava do cabelo do Téo? O curioso é que o público, pelas pesquisas feitas pela Globo, nunca colocou defeito no cabelo do Téo. Aquele corte emprestava à personagem um tom de desleixo necessário. Foi um recurso dramático para mostrar a mudança do personagem. Téo sai do hospital de cabelo raspado e seis quilos mais magro. Não estou preocupado em fazer personagem fashion, a roupa não é da minha conta. Meu problema é interpretar. Crítica séria é sempre bem vinda porque nos ajuda a corrigir defeitos, o que chateia é a crítica burra, irônica. E a brincadeira com seu excesso de pelos? Eu me sinto honrado com as piadas do Casseta & Planeta. Tenho muito pelo mesmo, é uma herança familiar. E eu não me levo a sério, tenho bom humor. Por que você é tão comentado na mídia? Para muita gente, parece ser imperdoável manter um casamento de 34 anos como o meu. Em vez de falar do meu trabalho, há jornalistas que fazem análise da minha vida pessoal. Quando recebi no Festival de Gramado o Kikito pelo filme Buffo & Spalanzani, ofereci o prêmio à minha mulher. Todo mundo fez isso, os artistas de vanguarda também agradeceram mãe, mulher, filhos. Uma jornalista, em uma atitude mixa, escreveu "Tony, como não poderia deixar de ser, agradeceu a mulher". Por que você acha que isso acontece? Deve ser porque eu não faço fotos dentro da minha casa, não fotografo dentro da banheira. A imagem que fazem de mim é de um careta. Por quê? Porque sou um homem leal à minha companheira e ao meu estilo de vida? Porque sou discreto e respeito a opinião e o jeito de ser de cada um? Não entendo essa marcação preconceituosa. O que você ainda gostaria de fazer na TV? Um programa com platéia. Gostaria também de fazer uma novela do Benedito Rui Barbosa, do Aguinaldo Silva, autores com quem ainda não trabalhei. O Guel (Arraes) e o Jorge Furtado me chamaram para um novo projeto também. O gênero novela está se esgotando? Fiz TV ao vivo na década de 60. Ouvi que a novela ia acabar nos anos 70, 80, 90... Não acaba porque a dramaturgia se renova. Como você avalia a qualidade da TV brasileira? A TV brasileira não tem identidade. Mas ela tem de ter responsabilidade, por isso deve ser sabatinada para saber qual é sua função. Quando se fala em algo parecido, dizem que é censura, mas isso é conversa para boi dormir. Só vamos mudar o país pela educação e a TV deve ajudar o Brasil nessa missão.

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