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Tônia Carrero volta ao palco como milionária vingativa

Aos 80 anos, a atriz estréia no Rio A Visita da Velha Senhora, de Dürrenmatt, cercada tanto por veteranos como por representantes das novas gerações

Por Agencia Estado
Atualização:

A peça A Visita da Velha Senhora, do suíço Friedrich Dürrenmatt, que estréia amanhã no Teatro Nelson Rodrigues, no centro do Rio, reúne três gerações dos palcos brasileiros. A estrela e produtora é Tônia Carrero que comemora em cena 80 anos de idade (completados em 23 de agosto) e 52 de carreira e se cercou de veteranos (Carlos Alberto, Cláudio Correia e Castro, Nelson Dantas, André Valli e Fábio Sabag), de rapazes que agitaram a cena carioca nos anos 80 (Leon Góes e Paulo Vespúcio) e da garotada recém-saída das escolas de arte dramática. Tudo sob a batuta de Moacyr Góes, que pertence à geração intermediária. "Tônia me chamou para esse espetáculo", conta Moacyr, que já dirigiu Vera Fisher, Marília Pêra e Marieta Severo e, com seu próprio grupo, montou Pirandello, Shakespeare e Nelson Rodrigues. Desta vez, como naquelas, evitou atualizar a história escrita nos anos 50. "Não é necessário, porque este é um dos textos mais felizes da dramaturgia mundial. Além disso, modernizar clássicos é confiar pouco na capacidade da platéia de entender o espetáculo, fazer ilações e associações entre passado e presente." A história de A Visita... é conhecida do público brasileiro. Foi adaptada por Jorge Amado no romance Tieta do Agreste, que virou novela de sucesso na Rede Globo, em 1989 (com Beth Faria), e filme de Cacá Diegues nos anos 90 (estrelado por Sônia Braga). O original não conta com a trégua do humor e da brejeirice brasileira nem tenta abrandar a crítica ao poder do dinheiro. Quando estreou, era uma crítica ao Plano Marshal, que trazia dinheiro norte-americano para reconstruir a Europa destruída por duas guerras e submissa à nova ordem. Hoje, diante das dualidades globalização e nacionalismo, ética e mercado, A Visita torna-se mais real que há 50 anos. A história de Clara, milionária de 60 anos, que volta à cidadezinha onde foi humilhada na adolescência para se vingar do homem que a deixou grávida e das pessoas que não a acudiram, não perdeu a atualidade. E a crítica à hipocrisia de quem encontra desculpas para trair os próprios princípios em nome do conforto material também continua valendo. O ator Carlos Alberto, que faz Schill, antigo amor e objeto da vingança de Clara, pode falar horas sobre essa relação, mas prefere elogiar Tônia, com quem contracenou no espetáculo Tiro e Queda, nos anos 60, e na novela Kananga do Japão, da extinta Rede Manchete, nos anos 80. "É generoso comemorar 80 anos com uma superprodução, 25 pessoas em cena. E com um texto que denuncia um mundo em que não existem mais responsabilidades individuais, ninguém assume culpa pelo que faz", comenta o ator. "Detesto julgar, mas Durrenmatt é atual numa sociedade baseada no dinheiro, na satisfação e no prazer imediatos, em que o ter vale mais que o ser." Moacyr Góes concorda, mas não se restringe à visão política de A Visita, por considerá-la óbvia. "Há também drama humano, de pessoas que tomaram decisões erradas na vida e não sabem corrigi-las. Há o desencontro de um casal que se amou", adianta ele, que criou um espetáculo luxuoso, com uma equipe campeã de prêmios teatrais: cenários de Hélio Eichbauer, luz de Maneco Quinderé, trilha sonora de Marcos Ribas e figurinos de Biza Vianna e do estilista Guilherme Guimarães, que desenhou roupas de época para Tônia. "Mas o espetáculo não é realista porque Durrenmatt sofre várias influências: é simbolista, romântico, cético, mas tão poético que denuncia sua esperança e fé no ser humano." Tônia é só elogios para o diretor, enquanto ele tem um carinho declarado pela diva. "Eu adoro atores e não trato um medalhão diferente do restante do elenco", ensina ele. "Como sou tranqüilo, acaba dando um ótimo resultado."

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