Tom intimista e natural, mas nunca piegas

Crítica: Luiz Carlos Merten

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Por Redação
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Há um encanto próprio do cinema francês, que quando os autores acertam atinge em cheio a sensibilidade do espectador. Claro, é preciso não estar ligado só na arte da narração. Importa muito o que ocorre nas entrelinhas. Um filme é feito de observações. O diretor, ou a diretora, olha os personagens no cenário e na situação que criou para eles.Camille, a garota de Adeus, Primeiro Amor, vive um momento decisivo de sua (jovem) vida. Ela já experimentou as primeiras vibrações da carne e agora oscila entre dois amores. Não é mais uma história de primeira noite nem mesmo o rito de passagem. É muito mais a questão fundamental da identidade.Na entrevista, Mia Hansen-Love confessa que ama o cinema de dois autores importantes da França, François Truffaut e Eric Rohmer. Ela não tenta imitar nem um nem outro, mas assimila, com naturalidade, características, ou contribuições, de antes.O cinema, ela diz na entrevista, a ensinou a se abrir para o mundo. Ela olha esse mundo pelos olhos de Camille. Tenta transmitir - decifrar - suas emoções (e decepções). O tom é intimista, o diálogo, da própria Mia, soa natural, mas nunca piegas, quando dito por Lola Créton.No início, Camille vive um romance pastoral com esse garoto de sua idade. Mas ele parte para a América do Sul e lá, de longe, rompe com ela. Camille então viaja à Dinamarca, uma viagem que tem a ver com seu interesse por arquitetura. Ela se envolve com um professor, um homem maduro que lhe oferece o que seu amor de juventude não lhe garantia - uma estabilidade? Mas será disso que Camille necessita, nessa quadra de sua vida? O filme é delicado, faz boas observações sobre as diferenças entre os homens e as mulheres. Mas, embora Mia tenha Truffaut e Rohmer como referências, talvez se perceba aqui outra influência da qual nem ela tem consciência. A complexidade dos sentimentos, e até alguma coisa do estilo, remetem a Jean Eustache, de La Mamain et la Putain.

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