
17 de dezembro de 2010 | 00h00
A cineasta reflete - "Quando criança, a gente em geral tem uma religião que é imposta. Ao crescer, tenta se afirmar pelo materialismo. Aos 60 anos, estou muito feliz de viver meu momento espiritual." Nele se encaixam não apenas Aparecida - O Milagre, mas também outro filme que Tizuka finaliza, Amazônia Caruana, sobre um pajé da grande floresta. Ela cita o tipo de mudança que introduziu no roteiro que tem crédito final de Paulo Halm. A cena do auto, quando o filho de Murilo Rosa - o garoto que desafia o pai empresário, sendo ator - reconstitui a história da estátua da santa e como foi encontrada, havia sido escrita como sendo de interiores. Um ensaio num galpão e Tizuka convenceu os produtores Paulo Thiago e Gláucia Camargos a levar as cenas para a rua.
"Todas as cidades do interior de São Paulo que prosperaram meio que se parecem. Aparecida é a exceção e me parecia importante mostrar sua topografia." O ator que faz o filho, Jonatas Faro, é bonito e talentoso. Justamente naquela cena, ele estava voltando ao set, depois de parar por dez dias, em decorrência de um acidente. Numa cena que é posterior dentro do filme, mas foi feita antes - a briga com o pai, no interior da casa -, Jonatas Faro, muito intenso, machucou o rosto ao sair de quadro de forma intempestiva, chocando-se com a steadycam. Ele machucou o rosto. Tizuka estava preocupada de que ficasse alguma marca. Não ficou nenhuma. Até nisso a santa ajudou.
É a melhor cena do filme e, para Tizuka, é lucro ouvir o elogio. Ela sempre soube que Aparecida - O Milagre não tem a cara de filme para os críticos. "Nossa opção por fazer uma narrativa bem popular implica nisso que você chama de reiterações (leia textos nesta página). Mas, por outro lado, o filme é muito sofisticado, muito cuidado", ela ressalta. Durante todo o tempo, sua preocupação, associada à irmã, a diretora de arte Iuriko Yamasaki, era ser crível. "Talvez a primeira coisa que mexi no roteiro foi fazendo ver ao Paulo (Thiago) que Nossa Senhora tinha de aparecer. Não sabia nem como faria isso, mas era importante, necessário para o filme, que ela aparecesse. O problema é que cada fiel tem a sua imagem de Nossa Senhora, não podíamos desapontar ninguém."
Ela não é católica, mas se define como uma pessoa espiritual, de fé. Não fez Aparecida como uma reação católica à onda espírita que assola o cinema brasileiro. "Na verdade, gostaria que o filme viesse somar. O filme não é de catequese nem dogmático. Daniel Filho (em "Chico Xavier") fez cinema mais do que doutrinação espírita. Nosso Lar é menos cinema e mais doutrinação. Eu sou do time de Daniel, também quis fazer cinema." O filme vai passar do milhão de espectadores? "É imprevisível. Nunca se sabe, mas gostaria que sim."
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