Tio Vânia inspira galpão

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Por Maria Eugenia de Menezes
Atualização:

O interesse renovado pela obra de Anton Chekhov não aparece apenas nas obras do argentino Daniel Veronese. No Brasil, o grupo mineiro Galpão também envereda pela trilha aberta pelo autor russo e montou Tio Vânia (Aos Que Vierem Depois de Nós). A peça, que fez sua estreia no Festival de Curitiba deste ano, segue em cartaz na sede do grupo em Belo Horizonte. E deve chegar em breve a São Paulo. Com direção de Yara de Novaes, a montagem sinaliza um desvio de rota na tradição da companhia. Às vésperas de completar 30 anos, e quase sempre devotado a um teatro popular, quase farsesco, o Galpão aparece agora tateando um universo praticamente inexplorado: os dramas de densidade psicológica. Com o texto, o grupo também põe a si mesmo sob escrutínio. "A peça fala dessa relação dos homens com o tempo, esse momento de rever o que fizeram. Agora, é como se o próprio Galpão fizesse um balanço", avalia a diretora. Antes de fincar o pé no mestre do realismo, o grupo sondou outros autores, como Harold Pinter. Também flertou com a releitura que Daniel Veronese fez em Espia a Uma Mulher Que se Mata. Mas acabou decidindo-se por abraçar o original. Se pensarmos que o último trabalho do Galpão foi Till - uma retomada de suas raízes de teatro de rua -, a obra atual soa quase como contrassenso. Mas vale lembrar que o movimento de escape já se delineava antes, pelo menos desde que Eduardo Coutinho filmou Moscou. No documentário de 2009, o cineasta revelava o encontro da companhia com As Três Irmãs. Em jogos de improviso, flagrava-se o conflito latente entre real e ficção, dissolviam-se os limites entre o ator e o papel que representava. Para fazer Tio Vânia, as biografias dos intérpretes também foram convocadas na sala de ensaio. Essas experiências pessoais, porém, não chegaram a subir ao palco.

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