The National e a fértil meia-idade

O vocalista Matt Berninger fala sobre o amadurecimento do grupo nova-iorquino de indie rock e sobre novo álbum

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Por Roberto Nascimento
Atualização:

Em 2013, não é raro ouvir uma banda de rock madura com mais a dizer do que as efêmeras novidades vendidas pelo ciclo de blogs independentes. Um apanhado dos melhores discos do ano, até agora, é desequilibrado por veteranos como Sigur Rós, Deerhunter e Yo La Tengo, enquanto estreantes como Savages e Foxygen parecem exercer um papel coadjuvante, de elogiável - embora pouco original - imitação estilística. No time dos vacinados está também o The National, há tempos uma das melhores bandas na praça, com uma discografia cada vez mais sólida. Trouble Will Find Me, o sexto do grupo, lançado este mês em cópia física, no Brasil, pela LAB 344, consolida a competência do quinteto na produção de canções feridas, vestidas em arranjos estonteantes, impulsionadas por levadas viçosas, que traduzem dilemas de quarentões nova-iorquinos, com filhos para criar e relacionamentos sérios para manter. Trata-se de um elogiável marco para uma banda que parecia ter alcançado seu ápice no belíssimo High Violet, de 2011, mas ainda ostenta a chama necessária para produzir algo no mesmo nível. Matt Berninger, a voz e o letrista dessas digressões meio ensolaradas, meio melancólicas, falou ao Estado sobre tempo e processos criativos. O novo clipe mostra vocês, num quarto, com um menino à frente da banda. Existe um ponto de maturidade óbvio e nítido quando se coloca um filho num vídeo? É difícil dizer quanto estamos amadurecendo (risos). O moleque no vídeo é o filho de um amigo. Alguns de nós somos pais agora, e tenho certeza de que isso tem alguma influência sobre o nosso som. Mas ainda somos infantis. No vídeo, estamos todos bêbados, tocando em um quarto, com o moleque. Acho que, se amadurecemos, foi por conseguirmos aceitar uns aos outros com mais paciência e respeito. Lembro que quando saiu o High Violet, o New York Times publicou uma matéria detalhando as crises do processo de gravação. Nós discutimos bastante. Perdemos a cabeça, às vezes. Mas quando você coloca cinco caras criativos juntos e eles são realmente dedicados, há todos os tipos de tensão criativa imagináveis. A diferença é que agora nós percebemos que isso não vai causar o fim da banda. O The National é conhecido por ter músicos talentosos. Há um líder no grupo? Não, e por isso acho que conseguimos durar tanto. Os Stones, o R.E.M. e o U2 são bandas em que o cantor não toca instrumentos e não decide sozinho o que acontece. Acho que por isso duraram tanto. Sem uma figura central, percebemos que precisamos uns dos outros, e que podemos ser mais flexíveis com as opiniões dos outros. E quanto à força criativa, a ideia que temos de artistas é que eles ficam mais calmos, satisfeitos e resolvidos ao chegarem aos 40. Não me parece ser o caso de vocês. Não somos mais adolescentes. Mas há tantas coisas que ainda estamos tentando entender. Como ser bons pais, como ser bons maridos, pessoas, amigos... As minhas angústias adolescentes continuam iguais. Não sei se a iluminação chegará. Talvez o segredo seja ter paciência com o próprio cérebro, e levar a sério, trabalhar duro. 90% de fazer algo importante é a perseverança. E não é só a música. Amizade, casamento. Custa trabalho e fé. Quando era jovem, eu esperava as coisas acontecerem. Hoje eu percebo que tenho que fazê-las acontecerem.Quando vocês começaram a tocar estavam perto dos 30. Houve uma pressão para fazer sucesso entre as bandas do Brooklyn?Os primeiros discos foram experiências. Quando gravamos o primeiro (Sad Songs for Dirty Lovers, de 2003), nem sabíamos que estávamos fazendo um disco. Não tínhamos a pretensão de ser uma banda séria. Lembro que isso era quando os Strokes e os Yeah Yeah Yeahs estavam fazendo muito sucesso. Não nos considerávamos uma banda legal que faria turnês pelo mundo. No terceiro disco começamos a levar as coisas a sério. Mas o segredo foi a paciência. Ter a liberdade de explorar qualquer coisa, até que isso tome uma forma.Ouvindo Trouble Will Find Me, uma das primeiras coisas que agradam são as texturas das guitarras. Vocês trabalham com muitas sobreposições até chegarem a uma síntese? Nós empilhamos muita coisa. É um processo vagoroso de tentativas e erros. Depois tiramos metade de tudo que está gravado e deixamos o essencial. Através dos anos, aprendemos a nunca deixar de experimentar ideias, por mais banais que elas soem em teoria. Sempre arranjamos tempo para investigar todas as possibilidades. Nunca se sabe qual loucura dará o brilho, a magia, a uma canção. No começo, alguém surgia com uma ideia de colocar um tamborim, e se soasse besta, discutiríamos por horas. Hoje, aprendemos a tomar o nosso tempo, a sermos pacientes.  

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