Terry Richardson, a imagem do trash

Com forte apelo sexual e um humor escrachado, o filho de Bob Richardson ergueu sua carreira desmoronando o glamour da moda - e está no Brasil para fotografar o catálogo da Spezzato

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Por Agencia Estado
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"Não façam sexo amanhã", foi a recomendação que Terry Richardson deu aos dois modelos selecionados para as fotos da campanha que ele veio ao Brasil fotografar, assim que foi apresentado aos moços no saguão do Hotel Pergamon, na tarde de terça-feira. A reserva de libido era necessária para que tudo pudesse correr conforme o esperado na sessão de fotos do catálogo da Spezzato, que rola hoje e amanhã, já que a idéia é mostrar os meninos nus e, digamos, bem animados. Contracenando com eles estará Daniela Cicarelli. "Ela tem seios grandes, fartos?", pergunta Terry - antes de conhecer a modelo. Confirmadas as boas curvas da moça, ele se anima. Terá um bom material para lidar. Sexo é só um dos temas prediletos de Terry Richardson, fotógrafo que fez do trash seu cartão de visitas, e que não tem barreira estética ou social na hora de disparar o botão de suas maquininhas automáticas. Suas imagens são nuas - e cruas. Diante delas, ninguém fica imune. Há os que viram o rosto, simulam enjôos. Outros se deleitam. Causar impacto é seu esporte predileto, mas nada é muito planejado. Tudo lembra álbuns de fotos de amigos, com direito a olhos avermelhados pelo flash estourado e imperfeições de pele sem retoques. "Fotografo as pessoas como elas são", confirma. Humor é outro ingrediente fundamental do trabalho dele, que optou por tirar um sarro do glamour da moda - e por isso mesmo transformou-se em tradutor perfeito da estética vigente, na qual o luxo pelo luxo só vale se for para divertir. Trazer Terry ao Brasil foi idéia de Marcelo Sebá, da Blush Branding, agência de imagem da Spezzato. O único contato anterior dele com a moda brasileira também havia sido pelas mãos de Sebá, que anos atrás o convidou para clicar uma campanha da Ellus - estrelada por Mila Jovovitch. Fora isso, Terry nunca ouviu falar da moda nacional. "Sei que a indústria está crescendo, tem até uma Semana de Moda, não é isso?", diz, simulando intimidade. Para Terry, é indiferente atender a um cliente aqui ou em qualquer parte do mundo. Ele imprime seu estilo, seja para a Sisley - para quem faz as campanhas mais abusadas -, ou Gucci, de quem arranca um bom dinheiro a cada contrato. "O valor depende muito do cliente. Há duas semanas fiz um trabalho quase de graça, um calendário com modelos nuas, só porque me interessava", despista. Terry não parece alguém muito ligado em grana. Só usa roupas de segunda-mão. Adora um brechó, não gasta mais de US$ 20 em uma peça - "exceto o Rolex". Nos pés, sempre um batido Converse. No corpo, inevitavelmente uma t-shirt - entre as mais de mil que exibe no armário - e um jeans surrado. Quando ainda era baixista de bandas em Los Angeles, foi também atendente de telemarketing para levantar um troco. Do palco, nos shows, ele via os fotógrafos - e achou que também poderia viver daquele jeito, com "boa comida, bons trabalhos e garotas lindas". Filho do fotógrafo Bob Richardson, um dos ícones da fotografia de moda ao lado de Richard Avedon e Helmut Newton, Terry enfrentou críticas duras do pai, e ficou dos 17 aos 22 anos longe das câmeras. "Eu realmente não estava pronto", diz. O primeiro trabalho para valer foi feito em 91. Eram anúncios para a MTV. Só em 95 o estilo Terry com se conhece hoje - com imagens de gente pelada ou cenas com cuspes, cocos, xixis e vômitos - começou a aparecer. "Foi um acidente", diz Terry, lembrando das fotos que misturaram churrasco com partes do corpo e causaram escândalo. De Nova York ele foi para a Inglaterra, onde fez editoriais para The Face e ID, rompendo a monotonia das imagens de moda. "Nas revistas, a vida é muito comportada, não há seres humanos. Eu fotografo gente", avisa. Sua técnica é aliada nessa missão. Ao abrir mão de equipamentos sofisticados, Terry acredita que deixa os modelos à vontade. "As pessoas não se intimidam, é mais confortável para elas, que acabam topando fazer fotos que nunca fariam", admite. "O que importa é a imagem, não a técnica." O estilo broken-glamour funciona também com os anúncios. Para Terry, chocar funciona comercialmente. "É preciso chamar a atenção das pessoas, fazer com que elas parem na página do anúncio", acredita. Obviamente, quando está sob contrato, Terry segue as instruções do cliente. "É um trabalho, é negócio", diz. Muito do que produz, às vezes é recusado. Mas quem chama Terry Richardson sabe o que esperar. Vai ter um cara de 36 anos, apaixonado pelo que faz e dono de um estilo único, mas que para surpreender depende de quem vê. Podem enxergar um visionário, o mais vanguarda de todos, ou achar o cara doido, doente, tarado. O que você achou?

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