Terceiro dia da Flip é marcado por pacifistas e protestos

Nadine Goerimer e Amos Oz protagonizaram o encontro de maior público até hoje

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Por Redação
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Já no início da noite, com lua minguante, a paz e a critícia à violência predominou a mais concorrida mesa, até o momento, da 5.ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, que trouxe a escritora sul-africana ganhadora do Prêmio Nobel Nadine Gordimer e o israelense Amos Oz, este contemplado pelo prêmio Princípe das Astúrias. A Tenda dos Autores lotou para ouvir os discursos pontualmente pacifistas dos dois escritores. Nadine, de 84 anos, em coletiva à imprensa concedida antes do debate, avaliou o Apartheid e a forma como sua arte foi blindada pela perseguição. Segundo ela, sua obra só não desapareceu porque ela escreveu em língua inglesa e pôde, assim, ser lida em outros lugares, mesmo com a cassação de seus livros na sua terra natal. "Três livros meus foram banidos", lembrou ela. "Tive sorte de escrever em língua universal e ser publicada em outros lugares", complementou. Ao avaliar o cenário norte-americano, não deixou de fazer críticas ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush: "Os americanos precisam se livrar de Bush". Nadine falou ainda sobre a questão da Aids em seu país natal e mencionou os avanços conquistados. "É impossível não enfatizar (o problema da Aids) de tão grave que é. Mas há conquistas na luta e prevenção da doença", disse. E emendou, em tom de crítica: "Mas (os avanços) estão sendo realizados lentamente e questiono o governo nesse sentido". Abaixo-assinado Houve espaço também para reivindicações. Foi o caso, por exemplo, do abaixo-assinado em prol da liberdade de expressão surgido no debate que reuniu os biógrafos Ruy Castro, Fernando Morais e Paulo César de Araújo, por conta da proibição judicial de circulação da biografia sobre o cantor Roberto Carlos escrita pelo último. No documento, que deve ser encaminhado ao Congresso Nacional, pedem a garantia do direito de liberdade de expressão. Houve também intercâmbio cultural e literário entre as escritoras Ahdah Soueif, africana, e Ana Maria Gonçalves, brasileira. Sob o tema Álbum de família elas falaram de personagens que, em seus livros, atravessam adversidades ao desbravarem os continentes. Ana Maria iniciou o debate lendo um capítulo de Um Defeito de Cor (Record). Ahdah, por sua vez, leu trechos de Mapa do Amor (Ediouro). A relação personagens e cidade natal foi tema discutido entre o baiano Antônio Torres e o badalado Mia Couto, de Moçambique. Os dois escritores falaram sob o tema em Terras enfocando a relação da arte literária com sua região natal, características que marcam bastante suas obras, como em Essa Terra, de Torres, e Terra Sonâmbula (Companhia das Letras), de Mia Couto. Literatura e cinema foi o cerne da mesa que reuniu o norte-americano Dennis Lehane, autor de Sobre Meninos e Lobos, romance adaptado para o cinema por Clint Eastwood, e o mexicano Guillermo Arriaga, roteirista de Babel, um dos fortes candidatos ao Oscar deste ano, e que encerrou a bela tarde de Paraty, sob o tema Crime e Castigo. Assim, com diversos temas abordados, foi encerrado o terceiro dia da Flip, com um belo pôr-do-sol assistido da ponte em que se atravessa para chegar à Tenda dos Autores, local onde são realizados os debates. Festa A cidade histórica registrou durante esta sexta-feira movimento bem maior do que nos dois primeiros dias da Flip, que encerra neste domingo, 8. A Praça da Matriz, onde ocorre a Flipinha, evento literário infantil, ficou tomada durante todo o dia pelas crianças. que se divertem no cenário enfeitado para o homenageado desta edição, o jornalista, dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues, morto em 1980. A praça, anteriormente ocupada por crianças na parte da manhã, dá lugar à boêmia nesta noite. Jovens, adultos e idosos passeiam pela cidade e enchem os bares e casas com música ao vivo, degustando a farta gastronomia de Paraty e, claro, as conhecidas cachaças da região. Maior que o movimento desta sexta, só mesmo no sábado, quando a cidade histórica deve registrar o pico de público, estimado em até 12 mil turistas pela organização.

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