
27 de dezembro de 2015 | 02h00
O problema é que todos nós somos múltiplos e contraditórios. Eu, você, a Dilma, o Chico Buarque, o papa, Gandhi e a sua mãe. Cada um tem uma opinião para cada assunto específico. E cada um tem a sua razão de achar aquilo. Estando certo ou errado. E é claro que você vai concordar com algumas coisas e discordar de outras. Vivemos num mundo plural, mas ainda pensamos com uma cabeça bilateral. Certo ou errado. Bom ou mau. É ou não é. A questão é que tudo está certo e errado, é bom e mau, é e não é, ao mesmo tempo. E é aí que está a maior dificuldade de todas, para nós, nos dias de hoje. Conseguir ser e não ser, ao mesmo tempo. Eis a questão.
Continuamos a julgar as pessoas somente baseados no “sim e não”, quando no nosso próprio julgamento nos é permitido o “quem sabe, pode ser e talvez”. Temos as nossas razões, as nossas desculpas pessoais para sermos como somos, mas elas são aplicadas exclusivamente a nós mesmos. Os outros têm que ser eticamente perfeitos, sem nenhuma possibilidade de falha ou contradição, mas nós temos o direito de termos as nossas próprias regras.
A maravilha de vivermos em um país democrático é podermos ter e dar as nossas opiniões, mas está havendo uma confusão, porque, ultimamente, está sendo exigido não “ter uma opinião”, mas sim “ter a mesma opinião”. E como seria possível termos a mesma opinião em questões como o aborto, a eutanásia, a liberação das drogas, a pena de morte, a posição política, etc, etc, etc... O que seria do amarelo se todos gostassem do azul? Seria maravilhoso porque EU gosto do azul. E sabe qual é o mais louco? É que, depois de tudo, as pessoas mudam de opinião. O que significa que a sua luta de hoje, pode ser a briga oposta de amanhã. E se eu passar a gostar do amarelo? O que será do azul? Me parece que nada é certo. Nunca foi nem nunca será.
Até outro dia, era um fato consumado que o mundo era quadrado e o Sol girava em torno da Terra. Cuidado com os seus julgamentos. Para alguém, eles sempre serão os piores possíveis, e, para alguém, serão sempre os certeiros. E algum dia, talvez, vice e versa.
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