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Tecnologia muda percepção do mundo

O ensaísta Laymert Garcia dos Santos lança o livro Politizar as Novas Tecnologias, com textos que tratam da videoarte ao ciberspaço, passando pela questão do consumo e da biotecnologia

Por Agencia Estado
Atualização:

Do anos 1970 para cá, defende o ensaísta Laymert Garcia dos Santos, a tecnologia mudou a percepção do mundo pelo homem. O que não mudou foi a consciência dessa percepção. "Nossa concepção de tecnologia está atrasada; costumamos vê-la apenas como arma ou instrumentos", afirma. "É preciso ir além da utilidade que nos serve, porque nossas relações hoje não são só humanas, são humanas mediadas pelas máquinas." Garcia dos Santos é autor de Politizar as Novas Tecnologias (Editora 34, 320 págs., R$ 34), que reúne artigos sobre a relação entre o homem e a ciência publicados ao longo dos anos 1990. Os textos tratam da videoarte ao ciberespaço, passando pela questão do consumo e também pela biotecnologia. Alguns capítulos do livro discutem obras de arte que recorrerem a sofisticados meios eletrônicos - como o filme "Dançando no Escuro", de Lars von Trier, realizado com câmeras digitais. "Como os musicais de Selma, ´Dançando no Escuro´ também não tem fim - sua última imagem, presença ausente, existe apenas como pura virtualidade: é o mundo que só a geração futura verá. Um mundo construído por nós, pela utopia dos espectadores do cinema digital", escreve. Para Garcia dos Santos, os artistas que analisa (além de Von Trier, ele trata com destaque as obras de Bill Viola, Rubens Mano e Sonia Andrade) fazem um uso não convencional e criativo das novas tecnologias, sem se subordinar a elas. Ele, no entanto, não discute nenhum escritor ou poeta "digital": "Até agora, não vi nenhum trabalho literário que me entusiasmasse", com relação ao uso das novas tecnologias. A "despolitização" da questão tecnociência, palavra bastante usada por Garcia dos Santos, é um fenômeno mundial, embora seja mais forte nos países do Terceiro Mundo. "É preciso discutir as novas tecnologias de um modo mais amplo; elas têm de estar no centro do debate político." Não basta, por exemplo, para o autor, "elaborar uma política de Estado para a sociedade digital": "É preciso que as opções sejam discutidas e que a sociedade possa escolher" - o que significaria, inclusive, abrir mão de supostos avanços. O livro, aliás, começa com a discussão em torno de questões ambientais. Os dois primeiros textos discutem os problemas econômicos, jurídicos e éticos das patentes envolvendo seres vivos. "É muito interessante que o primeiro embate do governo Lula tenha se dado em torno dos transgênicos", acredita. "Essa polêmica mostrou que a questão ambiental é também econômica, histórica, social e política." Garcia dos Santos defende ainda que o debate explicitou um conflito social. Na sua opinião, isso foi um bom sinal: "De um lado, ficou a sociedade civil e do outro uma aliança entre o Estado e uma transnacional. Em outros tempos, esses atores ganhariam sem precisar discutir."

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