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Teclas antigas, desempoeiradas

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Por Redação
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O reinado dos timbres que fizeram história nos anos 60 é apadrinhado, em grande parte, pelo órgão Hammond, que na época da Jovem Guarda já vivera bons dias de virtuosismo nas mãos de jazzistas como Jimmy Smith e Jack McDuff, e tornara-se instrumento indispensável em estúdios americanos (não fosse um Hammond B3, dando mole em um estúdio em que Bob Dylan gravava, nada seria da famosa introdução de Like a Rolling Stone, famosamente improvisada por Al Kooper). Lá por meados da década, surge o acessível Farfisa, o primeiro órgão elétrico do mundo. Instrumento italiano, mais acessível que a concorrência, foi usado extensivamente em gravações de soul music sulista (vide When a Man Loves a Woman, de Percy Sledge, ou One Shot of My Baby's Love, dos Swinging Medallions, e I Never Loved a Man (The Way I Love You), de Aretha Franklin). O instrumento teria também seus dias de glória no hard rock, usado por John Paul Jones, em Dancing Days, do Led Zeppelin, e também no fusion, usado por Herbie Hancock em Tribute to Jack Johnson, de Miles Davis. No Brasil, junto ao Vox Continental e o Hammond, o Farfisa virou instrumento de praxe em discos de artistas da Jovem Guarda como Renato e seus Blue Caps. Dizem até que a ideia de Lafayette ao tocar um Hammond, ou um Vox, era imitar o próprio Farfisa em outro instrumentos. Consolidava-se também, na época, o Mellotron, espécie de synth primário, estrela de Tomorrow Never Knows e Strawberry Fields, dos Beatles. O Mellotron era coisa de vanguarda na época em que John Lennon comprou um para seu estúdio caseiro. Através de samples de flauta, violiono e outros instrumentos orquestrais gravados em fitas magnéticas, e acoplados a todas as teclas do órgão, o instrumento disferia um som sintético que tornaria-se influente nos próximos anos. Era o início de uma sonoridade que seguiria firme através da próxima década, tanto no pop de artistas como Donovan quanto em discos de rock progressivo, como os do Yes, King Crimson e Pink Floyd. O Mellotron foi usado até por bandas de pós-punk, um movimento que, curiosamente, se opunha aos excessos do rock progressivo. Reanimado por produtores como Beto Villares, Kassin e Dustan Gallas, o synth tem forte presença em discos de MPB contemporâneos. É responsável pelo verniz vintage, meio cool, meio tosco que é referenciado nos discos atuais. R.N.

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