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Teatro X leva Prometeu a porão de delegacia

Em Promoteu Enjaulado, que estréia amanhã, mito do semideus condenado por mostar o fogo aos homens é recriado a partir da prisão de um fora-da-lei

Por Agencia Estado
Atualização:

A morte violenta passou a fazer parte do dia-a-dia dos que vivem na periferia dos grandes centros urbanos brasileiros. Se tal tragédia ainda é motivo de dor individual, parece ter perdido o poder de mobilizar a sociedade, a coletividade no sentido mais amplo. Buscar na mitologia a dimensão exemplar e trágica de uma única morte faz parte da pesquisa que levou à encenação de Prometeu Enjaulado, que estréia amanhã no Teatro X. Essa é a segunda montagem a estrear, integrando o projeto Nova Dramaturgia da Cia. de Teatro X, um grupo dirigido por Paulo Fabiano que vem investindo na formação de novos autores. A partir de um seminário de dramaturgia realizado no ano passado, eles reuniram alguns jovens dramaturgos que estão criando textos para a companhia. E decidiram optar pela releitura de mitos como forma de nortear a criação das primeiras peças. Assim, estreou no início do ano A Falha Trágica, de Gerson Steves, uma tragédia sobre a desintegração de uma família inspirada na Oréstia, de Ésquilo, que volta em temporada a partir de sexta-feira no Teatro X. A partir de amanhã é a vez de Prometeu, de Celso Cruz, peça inspirada no mito homônimo, a história de um semideus que, com pena dos mortais, deu-lhes de presente o fogo. O herói dos homens enfureceu os deuses do Olimpo, em especial Zeus, que exigiu uma humilhante demonstração de arrependimento. Mas o digno e orgulhoso Prometeu não volta atrás, mesmo sob as mais terríveis ameaças. E acaba amarrado num penhasco e condenado a ter o fígado devorado constantemente por abutres. O Prometeu da peça não é um herói tão importante para a humanidade. Seu nome é José da Silva Santos, vulgo Prometeu. Preso por furto pela primeira vez aos 13 anos de idade, já tem mais de 20 assassinatos nas costas e muitas fugas, até cair nas garras de um delegado da "banda podre" da polícia: um matador sádico e corrupto. Para viver, Prometeu deveria literalmente "lamber as botas" do delegado, deveria chorar diante dos requintes de crueldade de dois policiais, asseclas do delegado, que o torturam. Prometeu resiste menos por orgulho e mais por desencanto na certeza de que a morte precoce é certa. Uma morte para a qual ele se preparava desde o primeiro furto. Uma espécie de consciência individual de um "destino" inevitável. Mas tem o seus "poderes" de semideus. A proteção dos "santos". Se isso não garante a "imortalidade", o corpo fechado, pelo menos permite que ele não seja apenas "mais um anônimo" na contabilidade macabra e negligente do delegado. Prometeu Enjaulado. Drama. De Celso Cruz. Direção Paulo Fabiano. Duração: 60 minutos. Quinta e sexta, às 21 horas. R$ 10,00. Estúdio Teatro X. Rua Barão de Tatuí, 258, em São Paulo, tel. (11) 3661-1318. Até 14/12. Estréia aberta ao público às 21 horas.

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