Teatro perde o faz-de-conta de Maria Clara Machado

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Por Agencia Estado
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A diretora e autora de teatro Maria Clara Machado, que morreu ontem em casa, no Rio, aos 80 anos, não deixa descendentes consanguíneos, mas espalhou centenas de "filhos" pelos palcos, telinhas e telonas do Brasil. Fundadora do Teatro Tablado, que completa 50 anos de atividade em setembro ela não só tornou-se uma referência do teatro infantil brasileiro, mas também formou gerações de atores e diretores que sempre a consideraram "mãe de todos". Assim ela foi chamada na homenagem recebida no dia 24 de abril, durante a entrega do Prêmio Shell de Teatro, que Maria Clara recebeu por sua contribuição às artes cênicas como dramaturga e professora. Já doente do câncer que a matou ontem, ela não compareceu, mas mandou um recado bem humorado. "Daqui a dez anos, quando eu fizer 90 anos e Tablado, 60, estarei aí para receber o prêmio", mandou dizer. Um emocionado Pluft (seu personagem mais conhecido, naquele momento vivido pelo ator Luiz Carlos Tourinho, seu ex-aluno) chamou ao palco todos os atores e profissionais que passaram pelo Tablado. Sua estréia como autora foi em 1955, com o espetáculo O Boi e o Burro a Caminho de Belém, que fez sucesso imediato. Naquela época, era raro um espetáculo infantil com a produção cuidada e texto inteligente que se tornaram sua marca. Mas nada se compara à sua segunda peça, Pluft, o Fantasminha. A estréia também foi em 1955 e, desde então, nem a própria Maria Clara tinha idéia de quantos palcos do mundo seu fantasma medroso tinha freqüentado. Pluft era também seu texto preferido. "É minha peça mais completa. Dura uma hora e tem de tudo: humor, poesia e situações", disse ela em 1995, quando remontou a peça, para comemorar os 40 anos do personagem. Depois desses dois sucessos vieram outros 25, que sempre usaram personagem tradicionais em situações atípicas. Assim foi com A Bruxinha que era Boa, O Rapto das Cebolinhas, A Coruja Sofia, O Cavalinho Azul, Tribobó City, etc. Toda essa criatividade tinha raízes. Culturalmente, Maria Clara Machado nasceu em berço de ouro. Era a caçula das cinco filhas do escritor Aníbal Machado e da dona de casa Aracy e desde cedo conviveu com a intelectualidade que o pai recebia em saraus e reuniões históricas em sua casa de Ipanema, na zona sul do Rio. Ela gostava de contar que nada tinha de tímida e se metia tanto nas conversas de adultos que Aníbal Machado a chamava de pernóstica. "Eu adorava porque pensava que pernóstica era quem tinha pernas bonitas." Há um ano e meio, ela vinha lutando contra um câncer raro, que atinge pessoas em idade avançada. Não parou sua atividade em momento algum, mas teve de reduzi-la. Segundo sua sobrinha e principal assessora, a atriz Cacá Mourthé, no momento da morte, às 20h45 de ontem, ela estava cercada de amigos e familiares. "Ela detestava hospitais e, se ficasse internada, sofreria mais." O velório de Maria Clara Machado foi na Capela do Patronato da Gávea e o enterro está marcado para as 16 horas de hoje no cemitério São Francisco Xavier, no Caju.

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