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Teatro infantil continua em debate

A produção em teatro infantil foi debatida pelos atores os atores Isser Korik, Antônio de Andrade e Lizette Negreiros, em mais um encontro da série Encontros - Panamco no Teatro

Por Agencia Estado
Atualização:

Na terça-feira, pela segunda vez, cerca de 100 representantes da classe artística ligada ao teatro infantil reuniram-se no Café Aprendiz, na Vila Madalena, para debater a crise no setor, por iniciativa do grupo Panamco, empresa patrocinadora do único prêmio teatral de São Paulo voltado exclusivamente para a área infanto-juvenil. A série de debates Encontros - Panamco no Teatro teve início em julho, com o objetivo de reunir mensalmente a classe e tentar mobilizá-la em torno de uma séria questão: como diminuir o preconceito da sociedade com relação ao teatro infantil. O terceiro debate está previsto para 3 de setembro. Participaram do segundo encontro, na terça, como palestrantes, os atores Isser Korik, Antônio de Andrade e Lizette Negreiros. O tema era, especificamente, produção em teatro infantil. A mesa-redonda teve como mediador o coordenador do projeto Encontros, Ewerton de Castro, que também está na comissão de jurados do Prêmio Panamco deste ano (mais uma vez organizado por Luíza Jorge, da Academia de Arte). Para servir de ponto de partida para o debate, Ewerton de Castro lembrou a importância de se melhorar a qualidade artística das peças de teatro infanto-juvenil em São Paulo, para que o setor não seja vítima de tanto preconceito e escape de uma vez por todas o estigma de "pecinhas" ou "teatrinho". "É preciso atingir o público, o interesse da imprensa e conseguir um nível tal de excelência que o patrocinador tenha o mesmo retorno de mídia do teatro adulto", declarou. "Sou do tempo do velhíssimo ditado, que diz que a união faz a força, e por isso estou aqui", completou a primeira palestrante Lizette Negreiros. "Quero contribuir para mudar as palavras do discurso rançoso, antigo, e não ter de ouvir mais dizerem que o pessoal do teatro infantil só sabe pedir, chorar, se lamentar. Somos artistas, somos seres especiais e esse valor ninguém nos pode tirar. Trabalhamos a favor da matéria-prima mais complexa e difícil, mais sincera e desprotegida, mais necessitada do saber e do prazer: a criança e o adolescente." "Desde que comecei no teatro, há 30 anos, existe crise no teatro", comentou Antônio de Andrade, o Tonhão, da peça Um Cheirinho de Pão. "É um problema crônico e, se ele acabar, o teatro também acaba. Nós sempre sobrevivemos, por uma razão tocante: usamos a alma para fazer teatro e para mantê-lo vivo." Tonhão apontou um problema freqüente entre os produtores de teatro infantil: a dificuldade de se manter um elenco. "Os próprios atores usam o teatro infantil como trampolim para chegar ao teatro adulto ou à televisão. Qualquer convite para fazer figuração no programa de menor audiência da TV é motivo para que abandonem a peça infantil em plena temporada e deixem o produtor na mão." Para Isser Korik, premiado por Ele É Fogo, não existe a figura do produtor de teatro infantil. "Existe, sim, uma gente maluca e saudável, que ama o teatro, e tenta, a todo custo, produzir a própria arte", disse. Segundo lembrou, um fator depreciativo do teatro infantil é o preço do ingresso. "Por que tem de ser um preço tão inferior ao do teatro adulto? Por acaso, é mais barato produzir para criança? Por acaso o ator merece ganhar menos quando a peça é infantil?" Ele sugeriu ao público que também refletisse sobre o ingresso gratuito que instituições como o Sesi instituíram para o teatro e que acaba desequilibrando o setor. "Teatro tem de ser de graça?", perguntou Korik. "Se for assim, educação também tem de ser de graça, alimentação também, saúde também. Por que só o teatro?" "Ser coerente com o trabalho dentro do teatro não é pedir muito", acrescentou Lizette Negreiros. "É o mínimo que devemos fazer. Agir com coerência e dignidade é o caminho que se pode encontrar para provar aos dirigentes, diretores, atores, bailarinos, e a todas as pessoas que não suportam o teatro infantil, que o que fazemos e tentamos produzir é de vital importância para a sociedade." Lizette encerrou lembrando a importância da iniciativa da Panamco com essa série de debates: "Compartilhar com o todo, sem medo de perder a individualidade, é uma atitude inteligente. Hoje, estão nos oferecendo um canal de discussão e debate. Temos de aproveitar. Eu entendo como uma troca, um início de processo. A Panamco quer saber e nós temos o que dizer. Por que não falar? O saldo virá depois." Leia algumas opiniões: "É preciso dar um basta neste preconceito, para não mais ter de ouvir que o pessoal do teatro infantil só sabe pedir, chorar e se lamentar." Lizette Negreiros "O teatro infantil precisa alcançar um nível de qualidade que garanta ao patrocinador um retorno de mídia como no teatro adulto." Ewerton de Castro "A crise na produção teatral é crônica e, se acabar a crise, o teatro também acaba. Resistimos porque usamos a alma para fazer teatro." Antônio de Andrade "Não existe a figura do produtor de teatro infantil. Existe uma saudável gente maluca, que ama o teatro e tenta produzir a própria arte." Isser Korik

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