Teatro da Vertigem inaugura sede

Instalados no centro de São Paulo, artistas querem promover intercâmbio com outras companhias. Debates marcam hoje a inauguração da sede

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Por Agencia Estado
Atualização:

O espaço ocupado pelo Teatro da Vertigem para apresentar seus espetáculos normalmente foge da rotina - no lugar do palco tradicional, o grupo promove sua vigorosa discussão entre o sagrado e o profano tanto em um hospital (O Livro de Jó) como em um presídio (Apocalipse 1,11), ambos desativados. Os integrantes do grupo sentiam a falta, porém, de um espaço onde as idéias fossem desenvolvidas e onde acontecesse o intercâmbio com outras companhias. O problema será resolvido hoje, quando, às 20 horas, o Teatro da Vertigem inaugura sua sede, no centro antigo de São Paulo. O grupo vai se instalar em um prédio histórico, a Casa N.º 1, ao lado do solar da Marquesa e próximo do Pátio do Colégio. Um assobradado de três andares, construído em 1870, que oferece salas para discussões e ensaios. "Lá, teremos a chance de desenvolver nosso trabalho de forma adequada além de receber outros grupos para discussões", comenta o diretor Antônio Araújo. E a troca de experiências vai marcar a abertura da sede na noite de hoje: Araújo vai receber Fátima Saad e Antonio Guedes, do grupo carioca Teatro do Pequeno Gesto, Georgette Fadel, da companhia paulistana São Jorge de Variedades, e Júlio César Fonseca Maciel, representando o Grupo Galpão, de Minas. O encontro será aberto ao público. "O debate permite que todos aprofundem esteticamente seu trabalho como desenvolve discussões sobre formas de interpretação", observa Araújo. A Casa N.º 1 não servirá de palco para o grupo da Vertigem, mas o ponto de partida na criação das próximas montagens. "Dispomos de várias salas pequenas, que serão usadas apenas para ensaios, administração e reuniões." Como se trata de um imóvel tombado pelo patrimônio histórico, o grupo não poderá executar nenhuma obra que modifique a planta original do imóvel. O espaço foi conquistado graças a um patrocínio da Prefeitura por meio da Lei do Fomento para o Teatro da Cidade de São Paulo. Com o apoio do Celso Frateschi, diretor do Departamento de Teatro do município, o grupo visitou diversos edifícios até descobrir a Casa N.º 1, que pertence ao Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), órgão do governo estadual que liberou uso do imóvel por um ano e meio. "Teremos um contrato de co-gestão do espaço, que poderá ser prorrogado por um outro período semelhante", afirma Araújo. O assobradado localiza-se onde existiu uma casa de taipa de pilão, construída em 1689. Ao longo de sua história, o lugar abrigou famílias de bandeirantes, cônegos e, depois de transformada em um edifício de três andares, diversas seções da administração municipal. Na década de 70, foi tombado pelo DPH e tornou-se sede da Secretaria Municipal de Cultura. Além de seu valor arquitetônico, o edifício abriga valiosos testemunhos de pinturas murais, que haviam sido recobertas por diversas camadas de pintura lisa. Antônio Araújo pretende estrear, em janeiro, a terceira obra do repertório do grupo, O Paraíso Perdido, que completa a Trilogia Bíblica. O problema é justamente o local - em carta enviada em julho, o cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes, desautorizou o grupo a ocupar novamente a Igreja de Santa Ifigênia, como aconteceu na primeira montagem do espetáculo, há dez anos. "Igreja não é construída para encenar espetáculos teatrais", justificou o cardeal. Busca - Diante da negativa do representante católico, Araújo não desanimou e já entrou em contato com membros de outras Igrejas, como a protestante, esperançoso de uma resposta afirmativa. Enquanto isso, continua o trabalho de ensaios com os atores. Na pior das hipóteses, ou seja, não receber nenhuma afirmativa, obrigará o diretor a escolher entre duas possibilidades. A primeira seria utilizar a capela do Hospital Umberto I, onde atualmente é encenada O Livro de Jó. "Não seria uma grande opção, porém, porque o lugar é pequeno, admitindo grupos de no máximo 15 pessoas", ressalva Araújo. "Teríamos mais atores em cena que espectadores." A outra hipótese seria encenar o texto como forma de protesto. "Poderíamos fazer uma leitura dramática no espaço que rodeia a Igreja de Santa Ifigênia ou mesmo ao redor da Catedral da Sé", admite Araújo. "Seria uma forma de marcar nossa revolta contra a negativa da Igreja Católica."

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