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Teatro Cidadão premia a resistência em cena

Seis companhias receberam R$ 65 mil da Prefeitura de São Paulo como apoio a seu trabalho: Teatro Popular União e Olho Vivo, Grupo VentoForte, Cia. Trucks, Grupo XPTO, Grupo Folias d´Arte e Sociedade Gastão Tojeiro

Por Agencia Estado
Atualização:

Com o objetivo de apoiar projetos teatrais pautados por objetivos tais como diálogo com a comunidade em que estão inseridos, trabalho a longo prazo, criação e fortalecimento de linguagens artísticas, o Departamento Municipal de Teatros, dirigido por Celso Frateschi, instituiu o Prêmio Teatro Cidadão. Por meio de concurso público, seis equipes artísticas receberam o prêmio de R$ 65 mil para desenvolver as propostas apresentadas. A julgar pelo tempo de existência e o trabalho desenvolvido pelas equipes escolhidas - Teatro Popular União e Olho Vivo, Grupo VentoForte, Cia. Trucks, Grupo XPTO, Grupo Folias d´Arte e Sociedade Gastão Tojeiro, a comissão premiou a resistência. Optou por grupos que vinham há tempo desenvolvendo um trabalho de forte inserção na comunidade e seminal no que diz respeito ao investimento em formação artística e cidadania. Características presentes na proposta apresentada pelo Teatro Popular União e Olho Vivo, dirigido por César Vieira, cujo mais recente espetáculo, A Revolta da Chibata, baseado no movimento liderado pelo marinheiro negro João Cândido, em 1910, deve entrar em temporada em breve no Centro Cultural São Paulo. Com o apoio do Prêmio Teatro Cidadão, César Vieira e o elenco de sua companhia vão realizar um trabalho em parceria com a Organização Não Governamental (ONG) Meninos do Morumbi. "Eles fazem um trabalho sério e admirável com 1.300 crianças, de 6 a 17 anos, da Favelas de Heliópolis e vizinhanças, não meramente assistencial, mas de formação de cidadania no sentido mais amplo", diz Vieira. A parceria entre o União e Olho Vivo e a ONG começa com a apresentação, seguida de debates, de A Revolta da Chibata para todas as 1.300 crianças. A partir daí, cem delas serão selecionadas para participar de oficinas de dramaturgia, direção, cenografia, figurinos e música. "Eles têm aulas de percussão há muito tempo e são excelentes nisso", diz Vieira. Juntos, vão criar um espetáculo musical. Mais que isso, o objetivo do União e Olho Vivo é formar um núcleo de teatro com os meninos da ONG. "Em cada oficina, formaremos um monitor, que seguirá com o grupo no fim do trabalho, que durará um semestre." Oficinas - Um espetáculo criado também a partir de oficinas gratuitas e abertas ao público é a proposta premiada do Grupo XPTO, que trabalha na linguagem de teatro de bonecos, porém de forma bastante eclética, misturando atores, bonecos e animação de objetos. "O tema do espetáculo será a cidade de São Paulo", antecipa o diretor Oswaldo Gabrieli. Para isso, os atores já estão recolhendo depoimentos de bancários, artistas populares, prostitutas, enfim, dos mais diversos moradores da metrópole. Esses depoimentos servirão de matéria-prima para uma oficina de dramaturgia. O espetáculo, que será apresentado também no CCSP, já tem nome: Estação Cubo, referência a um cubo de 36 metros quadrados que servirá de ambientação para as cenas criadas a partir de narrativas colhidas na cidade. Também atuando na linha do teatro de bonecos, voltada para o público infantil, a Cia. Trucks quer transformar a Biblioteca Infanto-Juvenil Monteiro Lobato num centro de referência para o teatro de bonecos em São Paulo. "Por ser encantador, o teatro de bonecos está atraindo um público cada vez maior e grande interesse por parte de jovens atores. Mas é importante que seja levado a sério. Não interessa a existência de um monte de cópias, mas sim de companhias com linguagem própria", diz o diretor Henrique Sitchin. Pelo proposta do grupo, além de espetáculo do gênero apresentado no Monteiro Lobato - sempre gratuitamente - o grupo dará oficinas, palestras e ainda fará uma grande Mostra de Teatro de Animação. "Muitos bons grupos vão participar, mas teremos a honra de ter o Ilo Krugli, do VentoForte entre nós." Ilo Krugli, o diretor do VentoForte, é considerado uma referência para todos os grupos que trabalham com a linguagem da animação. Em sua sede no bairro de Cidade Jardim, mantém constantemente oficinas para formação de novos talentos. E ainda faz apresentações grátis de seu premiado repertório, no Parque do Povo. "Acho que o mérito desse prêmio foi contemplar a continuidade, foi dar algum fôlego para um processo de trabalho sempre difícil de ser mantido", afirma Krugli. A cidade, mais especificamente os moradores de rua, são os personagens da peça Babilônia, do Grupo Folias d´Arte, dirigido por Marco Antônio Rodrigues. Com sede bem próxima do Minhocão, em Santa Cecília, o grupo há muito vem trabalhando com os moradores da vizinhaça, como na criação de um coral, atualmente com 30 integrantes. A comissão reconheceu ainda a importância do apoio à dramaturgia no trabalho desenvolvido pela Sociedade Gastão Tojeiro, que há anos promove, semanalmente, leituras dramáticas de peças teatrais, em sessões gratuitas e abertas ao público. Teatro VentoForte - Mestre, mago, guru - muitas são as formas de tratamento, todas repletas de carinho e admiração, com que bonequeiros de diferentes companhias brasileiras referem-se a Ilo Krugli, o fundador do Grupo VentoForte. Artista plástico e bonequeiro, o argentino Krugli chegou ao Brasil em 1961. Em 1974, criou o espetáculo História de Lenços e Ventos, considerado pela crítica um divisor de águas na linguagem dramatúrgica voltada para a infância. Com esse espetáculo, nascia no Rio também o VentoForte, trupe que se transferiu para São Paulo em 1979, onde mantém uma sede de 2.500 metros quadrados, centro de formação de várias outras trupes. São quase 30 anos de trabalho contínuo, encantando platéias e colecionando prêmios. A sede do VentoForte fica na Rua Haroldo Veloso, 150, Cidade Jardim, em São Paulo. Companhia Trucks - Voltada para o público infantil, com uma técnica apurada de manipulação de bonecos, a Cia. Trucks foi criada em 1990 pelo trio Henrique Sitchin, Verônica Gerschman e Cláudio Saltini. O primeiro espetáculo, Trucks - A Bruxinha, ficou oito anos no repertório e contabilizou mais de 1.200 apresentações. A trupe divide seu trabalho em duas etapas: linguagem lúdica e encantamento através das imagens até 1997. A partir daí, com a estréia do premiado Cidade Azul, começa um aprimoramento também do texto. Atualmente, a Trucks mantém em repertório Cidade Azul, O Senhor dos Sonhos e Contar até 10, espetáculos que têm em comum protagonistas - sempre bonecos - que são também crianças, ampliando assim a comunicação com o seu público. No momento, a trupe desenvolve seu trabalho na Biblioteca Monteiro Lobato, em São Paulo. Grupo XPTO - Artista plástico, cenógrafo e bonequeiro, o argentino Oswaldo Gabrieli chegou ao Brasil em 1980. Quatro anos depois nascia o XPTO, com o primeiro sucesso Buster Keaton e a Infecção Sentimental. Formado em Belas Artes em Buenos Aires, Gabrieli chegou ao Brasil trazendo uma vasta experiência teatral na bagagem. Mas desde o início deixou claro que buscava a experimentação, jamais a cristalização de uma linguagem. O diretor faz questão de misturar técnicas de circo, animação, dança e teatro, inovando a cada espetáculo, como fará no seu próximo projeto, Estação Cubo, um espetáculo apresentado num cenário que remete ao cubo mágico. Com 11 peças no currículo, o grupo mantém um espaço para ensaios, localizado no município de Embu, na Grande São Paulo. Teatro União e Olho Vivo - Com a disposição de utilizar a chamada "tática de Robin Hood" - cobrar ingresso da classe média para patrocinar apresentações grátis nos bairros periférios -, nascia em 1968 o grupo União e Olho Vivo, dirigido por César Vieira. Nascia assim já politizado, da união de dois grupos amadores: o Teatro do Onze, fundado na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, e o Teatro Casarão, integrado por porteiros, bancários e engraxates, entre outros trabalhadores. Ao longo dos anos, o grupo foi amalgamando uma linguagem própria, sempre bebendo em fontes populares. Espetáculos como Coríntians, Meu Amor e O Evangelho Segundo Zebedeu foram premiados no Brasil e no exterior. O grupo tem sede própria, que fica na Rua Newton Prado 766, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Grupo Folias d´Arte - Uma companhia nascida nos moldes das tradicionais trupes mambembes, que perambulavam por praças e feiras, criticando os poderosos com as armas da inteligência e do humor. Assim é o Grupo Folias d´Arte, fundado em 1990 e dirigido por Marco Antônio Rodrigues. O primeiro sucesso veio em 1995, com o espetáculo Verás Que Tudo É Mentira, sobre artistas mambembes. Musicais como Cantos Peregrinos e Happy End estiveram no repertório do grupo, que jamais perde de vista a crítica social. Uma das características do Folias é a habilidade musical do elenco: as trilhas são executadas ao vivo pelos atores que tocam diversos instrumentos musicais. Há dois anos, o grupo abriu sua sede num galpão cedido pela Fundação Conrado Wessel, em Santa Cecília, na Rua Ana Cintra, 213, em São Paulo. Sociedade Gastão Tojeiro - Ator, texto, espectador - esses são sem dúvida os elementos essenciais do teatro. Para estimular o aprimoramento da dramaturgia brasileira foi fundada, há dez anos, a Sociedade Gastão Tojeiro por um grupo de cinco amigos, com a leitura, seguida de debate, da peça "Intensa Magia", de Maria Adelaide Amaral, em abril de 1992. O objetivo era criar um espaço em que dramaturgos tivessem seus textos lidos e debatidos. Desde então, mais de 300 leituras dramáticas foram realizadas pela entidade. Sem sede própria, depois de ter passado pela Cantina Orvietto, atualmente a Gastão Tojeiro promove leituras dramáticas no Teatro Maria Della Costa, em São Paulo, e é mantida pela contribuição mensal de seus atuais 30 sócios. As leituras ocorrem sempre às segundas-feiras, gratuitamente e abertas ao público.

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