TBC se prepara para encenar Chico à exaustão

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Por Agencia Estado
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Com açúcar, com afeto, o novo Teatro Brasileiro de Comédia vai se transformar no templo de Chico. Aderindo à tendência dos musicais, o diretor artístico do TBC, Gabriel Villela, almeja mesmo a produção autóctone, o musical brasileiro. E, por falta de um, serão três. Três não, cinco musicais. É que além da trilogia Ópera do Malandro, Gota D´Água e Calabar, que serão dirigidos por Villela, o TBC vai produzir outras duas montagens de Chico Buarque de Hollanda, para o público infanto-juvenil: Os Saltimbancos e O Grande Circo Místico. A novidade no último caso é que as estrelas serão bonecos. A produção levará a assinatura do competente Cidade Muda. A Ópera do Malandro vai cortar a fita inaugural da criação da companhia estável de repertório do TBC. "Vamos desencantar o que está encantado", é a palavra de ordem do diretor, referindo-se ao período áureo de atividades do teatro, entre os anos 40 e 50, que lançou aos braços do público nomes como os de Cacilda Becker, Paulo Autran, Tônia Carrero e Walmor Chagas. "Queremos as novas Cacildas e os novos Paulos", enfatizava um animado Villela, na última quarta-feira, na sala de testes para a escolha dos 23 atores-cantores que integrarão a primeira companhia estável de repertório do TBC, nesta retomada. Villela deu exclusividade ao Estadao.com.br para acompanhar as audições coordenadas pela preparadora vocal Maria Amália Moraes, a Babaya, e sua equipe assistente da Escola de Canto de Belo Horizonte, Minas Gerais. O diretor estava animado com o fato de os atores estarem vindo ao TBC. "Há uma quantidade incrível de talentos por aí. O TBC quer cumprir sua vocação. Vamos dar chance a eles." Volta de Max - Previsto para estrear em 12 de outubro próximo, a Ópera do Malandro foi escrita em forma de musical de cinema, em 1986, com direção de Ruy Guerra. Chico baseou-se em seu Malandro de 1978, por sua vez inspirada na famosa Ópera dos Três Vinténs, de Brecht. O dramaturgo alemão, por sua vez, inspirou-se na Ópera do Mendigo, de John Gay, de 1728. Na versão brasileira, o mendigo é um malandro carioca. Max (papel vivido no cinema por Édson Celulari) é uma espécie de anti-herói, ídolo dos bordéis, que sobrevive do contrabando e da exploração de sua amante Margot (lembram-se de Elba Ramalho deslumbrante no papel?). Ela, uma prostituta sob as ordens de um cafetão alemão. Os personagens emprestam como pano de fundo as reverberações no final da segunda Grande Guerra no Brasil. O universo da Ópera do Malandro, versão 2000, será atualizado por Villela, que vê no entanto, um prolongamento modernizado daquela época para os dias de hoje, por meio dos hábitos extravagantemente nacionais, do tráfico de influências à exacerbação do consumismo. "O Chico é a nossa grande reserva moral, ética e estética", resume o diretor artístico do TBC e encenador das peças recentes Replay, em cartaz no TBC, e Alma de Todos os Tempos, que acaba de estrear no Rio. Chicólatra assumido, Villela montou em 1997, no Rio de Janeiro, o espetáculo Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, musicado por Chico. Nesse período, Villela era o diretor artístico do Teatro Glória. Medéia - Gota D´água, o segundo musical, deve ocupar a sala TBC a partir de 1º de maio de 2001. Escrito por Chico Buarque e Paulo Pontes, em 1977, o musical retoma uma idéia do dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho para o mito trágico de Medéia (do grego Eurípedes), plantado, porém, em um bairro de subúrbio do Rio. Medéia é Joana, companheira de Jasão, que abandona-a por uma mulher rica. Por trás do mito, os autores teciam suas críticas às implicações sócio-políticas do regime militar no país. A canção mais famosa, com versões de Bibi Ferreira e Simone, celebrou os versos: "Deixa em paz meu coração / que ele é um pote até aqui de mágoa / e qualquer desatenção / faça não / pode ser a gota d´água." Dois mil e dois está reservado para Calabar, Elogio da Traição, de Chico e Rui Guerra. Censurado durante o regime militar, o musical é inspirado na "traição" de Domingos Fernandes Calabar, um mulato que lutou ao lado dos portugueses contra a invasão holandesa de 1630/45 e depois mudou de lado. A peça também é protagonizada por Bárbara, que busca o amante Calabar morto nos braços do traidor do próprio Calabar e da prostituta Anna de Amsterdã. Já os infanto-juvenis terão início com O Grande Circo Místico, agendado para estrear em 6 de janeiro de 2001, pelo Cidade Muda. Para outubro do mesmo ano, está previsto o musical Os Saltimbancos, de Chico em parceria com Edu Lobo. Para Os Saltimbancos será convidado um novo diretor. Companhia estável - O TBC recebeu cerca de 600 escolhidos e pré-selecionou 180 atores-cantores para os testes dos dias 16 e 17 de maio últimos. Os ensaios de Ópera do Malandro começarão em junho. A montagem está pré-orçada em R$ 800 mil reais. "Vamos fazer musical brasileiro, distinto das tradições da Broadway. Aqui o ator faz tudo, canta, toca e dança." À frente da do TBC e das novas produções, está o empresário e produtor Marcos Tidemann, o patrono do novo TBC. É do montante estimado para a montagem que também sairão os salários dos integrantes da companhia. O objetivo, segundo Villela, é fazer com que a partir da estréia de A Ópera do Malandro, surja um núcleo de atores fixo e menor, provavelmente dez no total, que chegue com o diretor até Calabar. Ou, ainda, mais adiante. É o TBC, em sua nova fase "quem te viu, quem te vê".

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