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"Tango, Bolero e Cha Cha Cha", no palco

Bibi Ferreira dirige peça que lembra aquela velha história do homem que sai para comprar cigarros e desaparece. Ele vira um transexual, muda o nome para Lana Lee, e vira uma famosa artista de casas noturnas internacionais

Por Agencia Estado
Atualização:

Aquela velha história do homem que sai para comprar cigarros e desaparece ganha os palcos da cidade. Dessa vez, numa versão semelhante, mas com um desfecho surpreendente. Foi depois de ouvir o que havia ocorrido com a tia de um amigo que o dramaturgo Eloy Araújo escreveu Tango, Bolero e Cha Cha Cha, que estréia nessa quarta-feira, no Teatro Cultura Artística, sob a direção de Bibi Ferreira. Visto por mais de 80 mil pessoas, somando as apresentações no Rio de Janeiro, Porto Alegre e Curitiba, o espetáculo conta a história de Daniel (Edwin Luisi), marido de Clarice (Maria Helena Dias) e pai de Denis (Jorge Neves), que certo dia deixa um bilhete e desaparece. Após dez anos, Clarice, ainda sufocada pelos motivos que teriam levado o marido a tomar tal atitude, e o filho, já aos 18 anos, recebem uma carta de Daniel dizendo que morou por longo período nos Estados Unidos e atualmente vive na França. Mas a real intenção da carta, além de fazer um primeiro contato, é avisar que ele está voltando ao País para rever a família. O filho rejeita a possibilidade de encontrar o pai, enquanto Clarice espera ter a resposta que buscou durante tanto tempo. Por que o marido a abandonou? O que eles nem imaginam é que Daniel virou um transexual, agora se chama Lana Lee, uma famosa artista das casas noturnas internacionais, e viaja com seu amante e partner Peter d´Alessandro (Paulo César Grande). "Por não saber como agir, Daniel resolve apresentar-se como uma prima distante chamada Daniela. As confusões ocorrem durante a tentativa de revelar a verdadeira identidade e sempre com a ajuda da empregada Genevra (Ivone Hoffman), que escuta tudo pela metade e distorce as situações", conta Araújo. É pela necessidade de sentir-se amado, aceito e compreendido pela família que ele volta. Para a diretora Bibi Ferreira, o tema é tratado com delicadeza e elegância, para não ofender, especialmente, o público feminino. "Para aceitar a direção de um trabalho necessito de duas coisas fundamentais: primeiramente entender o texto e, em seguida, senti-lo. Se começo a entender e a sentir o texto, o espetáculo surge naturalmente", afirma a diretora. "Essa não é apenas uma comédia, não queremos só fazer o público rir. A composição das cenas, como o elenco e a equipe responsável por figurinos, maquiagem, iluminação, trilha e cenário são importantes para um bom trabalho." Apesar da atualidade do tema, Bibi acredita que o texto poderia ter sido montado tempos atrás, até mesmo por seu pai, Procópio Ferreira. "Ele dizia que as peças deveriam ser comentadas à mesa da família. Mas como hoje não existe nem a mesa, acredito que ele a montaria ainda assim, por enxergá-la com nossos olhos, sem moralismo", conta Bibi. "Saimos da fase do teatro doméstico e fomos invadidos pela brutal avalanche do teatro do nu e do palavrão. Papai jamais ousou dizer um palavrão", afirma, orgulhosa. Além das boas atuações de todo o elenco, especialmente de Maria Helena e da divertida Ivone, é inegável a bela interpretação de Edwin Luisi, que já ganhou dois prêmios: Governador do Estado e Qualidade Brasil, como melhor ator, além de ser indicado para o Prêmio Shell. Completamente transformado, Luisi incorpora com delicadeza o papel, sem cair na caricatura ou vulgaridade. "Estou realizando um antigo sonho de trabalhar com Bibi Ferreira e poder contar com essa equipe que é uma grande família", admite o ator. Com cenários de José Dias, trilha sonora de Andrea Zeni, que terá clássicos musicais nos estilos sugeridos pelo título, coreografia de Juliana Medella e figurinos de Kalma Murtinho, o espetáculo ganhou um final glamouroso e hilariante. Segundo o ator, o nome Tango, Bolero e Cha Cha Cha revela três momentos da peça - o tango significa a milonga, a tragédia; o bolero é o entendimento; e o cha cha cha o happy end. Tango, Bolero e Cha Cha Cha. Comédia. De Eloy Araújo. Direção Bibi Ferreira. Duração: 1h30. Quinta a sábado, às 21 horas; domingo, às 18h30. R$ 25,00 (quinta); R$ 30,00 (sexta e domingo); R$ 40,00 (sábado). Teatro Cultura Artística. Rua Nestor Pestana, 196, tel. 258-3616

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