21 de outubro de 2010 | 00h00
Primeiro, as boas surpresas. Talvez o maior vencedor seja o maestro coreano Myung-Whun Chung. Aos 57 anos, ex-assistente de Carlo Maria Giulini, um dos grandes regentes do século 20, e dono de vasta e respeitabilíssima discografia, Chung teve o mérito de nos fazer ouvir com atenção e enfatizar detalhes que passam despercebidos após centenas de audições. Como a precisa condução da variadíssima abertura da ópera O Franco-Atirador, de Weber, com enormes contrastes de temas e atmosferas; ou mesmo uma leitura preciosa do Andante da Quinta de Beethoven, graciosamente aberta com os cellos e violas expondo o primeiro tema. A orquestra francesa não é de primeiro time, mas Chung levou-a a um patamar muito bom de execução, o que não é pouco.
Do lado negativo, é inexplicável manter no Concerto n.º 1 de Chopin um pesado exército de cordas esmagando os sopros, sobretudo os pobres pares de madeiras. A delicadeza e o refinamento, aliás rarefeitos no toque de Sergio Tiempo, espatifavam-se contra um paredão comandado por sete contrabaixos. Fica difícil ouvir orquestras tão rechonchudas nas cordas em repertórios como os concertos de Chopin e mesmo na 5.ª de Beethoven, sem levar em conta as conquistas da música historicamente informada. A leveza da escrita pianística de Chopin perdia-se e pode bem ter levado Tiempo, protegido de Martha Argerich, a acentuar demais seu toque. Costuma-se dizer que a orquestra é quase dispensável nos dois concertos de Chopin. Ou seja, não acrescenta muito. Mas, agigantada, pode atrapalhar bastante o solista.
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