Suassuna apresenta especial no Multishow

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Por Agencia Estado
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Ariano Suassuna costuma dizer que se tivesse de optar pela ficção ou pela realidade não saberia qual escolher. Para ele, não há diferença. "Escrever foi a maneira que encontrei para enfrentar a dura mas fascinante e bela tarefa de viver", diz o escritor. A maior prova disso vai ao ar amanhã (30) no programa Multishow em Revista, do canal de TV paga Multishow. O escritor apresenta o especial Cavalgada à Pedra do Reino, festa em homenagem aos mortos em uma tragédia ocorrida em 1838, em São José do Belmonte, a 480 quilômetros do Recife. Bem-humorado, o autor pontua seus comentários sobre a tradição com passagens da sua vida associadas às festas populares do Nordeste. A tragédia foi provocada pelo fanatismo dos membros da Comunidade da Pedra Bonita, movimento religioso inspirado no mito da volta de d. Sebastião, rei português que morreu na batalha de Alcácer Quibir, na África, em 1578, sem deixar herdeiros. Na época, amendrontados pelo fato de ceder o trono a um rei espanhol, os portugueses passaram a alimentar o sonho da volta do "Rei Desejado". O fascínio que o rei exerce sobre o imaginário popular atravessou oceanos e séculos e o mito foi parar na mão do povo nordestino, por meio de um folheto de cordel. "Tudo que restou foram apenas duas folhas; o suficiente para que João Antônio dos Santos e seu cunhado João Ferreira juntassem um grupo de pessoas e fundassem uma comunidade religiosa", conta Suassuna. Santos foi expulso e Ferreira coroou rei a si mesmo. Perto de duas grandes rochas no sertão - a Pedra do Reino -, Ferreira fundou a comunidade e prometeu um reino próspero e feliz. Para isso ocorrer, seria necessário desfazer o encanto das pedras que segundo ele, eram as torres do castelo de d. Sebastião. Mas isso só seria possível se as pedras fossem lavadas com o sangue dos fiéis, que ressuscitariam depois. "Regada a muito vinho, a imaginação do povo conduziu a um massacre sangrento de mais de 50 pessoas, que se deixaram sacrificar", lembra o escritor. Surpresas - Os relatos de Suassuna revelam outras surpresas. O escritor mostra que o mito de d. Sebastião não exerce fascínio somente sobre os desafortunados à espera de dias melhores. A figura do rei é tão forte que inspirou um de seus livros mais famosos, a Cavalgada d´A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta. Porque d. Sebastião é tão importante para Suassuna? "Porque, para mim, o rei simboliza o que há de melhor na nossa alma", explica. "Todos temos a alma dividida em dois pólos: o palhaço, que é louco mas nos equilibra, e o rei; se d. Sebastião tivesse o lado palhaço, não teria morrido". O acaso prova mais uma vez que a vida de Suassuna confunde-se com sua obra. Além de seu romance inspirar o povo de Belmonte a organizar a festa há oito anos - mais de 800 participantes refazem a cavalo o percurso dos fiéis até o sertão -, a pedra mudou de nome. Antiga Pedra Bonita, a "torre do castelo" foi rebatizada de Pedra do Reino, em homenagem a Suassuna, que deu a ela esse nome no livro. "Sempre achei esse nome mais bonito e ficou". E a festa ganhou um personagem ilustre: o próprio Suassuna, nomeado imperador da Pedra do Reino em 1995. Mas ele ressalta que a Cavalgada foi uma loucura. "Mas a loucura é necessária e precisa ser relembrada; o bom senso nos diz para ficar em casa mas precisamos ouvir o d.Sebastião que temos dentro de nós e ir além". Serviço - Multishow em Revista - Especial Cavalgada à Pedra do Reino. Direção, roteiro e produção de Inez Viana. Amanhã, às 21 horas, no Multishow.

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