Strokes e Arcade Fire: o resto é conversa

Um som revitalizado e vibrante do rock incendeia fim de semana do jazz

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Por Jotabê Medeiros e NEW ORLEANS
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Apesar de ter sido um set curto, os Strokes anunciaram que seu rock direto, cru, blasé, tingido com as cores da melancolia, será provavelmente o show mais vibrante da temporada no Brasil - ao lado do caleidoscópio sonoro vertiginoso dos canadenses do Arcade Fire. Ambos foram estrelas, ironicamente, de um festival de jazz, o JazzFest de New Orleans - o Arcade Fire tocou na sexta e o Strokes (de casaco de couro preto e tudo) no sábado, ambos às 17h30, sob um calor de 30 graus e sol escaldante.The Strokes é a atração do festival Planeta Terra, no Playcenter, em 5 de novembro (com The Vaccines, Toro y Moi e, dizem, The Killers). Arcade Fire está na escalação do policromático Rock in Rio, em setembro. São os dois atos do rock mais excitantes nos palcos mundiais no momento - o Arcade Fire fez o disco unanimemente considerado o melhor de 2010 pela crítica, The Suburbs.Os Strokes entraram com 15 minutos de atraso e saíram 15 minutos antes, sem dar bis. Um set compacto, porém com raros equivalentes no rock system da atualidade. Quando falou, Julian Casablancas, vocalista dos Strokes, chutou o balde. "Acho que a gente não está sendo muito jazzy neste festival", disse. "Na boa, eu parei de ouvir jazz nos anos 40", ironizou, sarcástico. A velha rudeza ignorante do rock"n"roll ainda serve para distrair, ou ao menos para quebrar garrafas num pub enfumaçado.Rock stars de pouca conversa e muita ação, os Strokes não insistiram muito nas canções novas do disco recentemente lançado, Angles. Fizeram a tarde ferver com os hits antigos: Last Nite, Hard to Explain, Is This It, Take It or Leave It e New York City Cops, do seu primeiro disco, foram as pieces de resistance. New York City Cops foi a paulada definitiva. As garotas de chapéu de Fairgrounds, o estiloso local do show, palco de lendários derbys, caíam na grama pulando e beijando muito.Além das velhas canções, outras antigas, como Reptilia e Automatic Stop deram as caras. De Angles, vieram Room on Fire, Taken for a Fool e Life Is Simple in the Moonlight. Interessante como reciclaram sua música sem negligenciar o coté clássico de seu rock: no palco, as canções novas revelam estilhaços do synth-rock dos anos 80, de experiências limítrofes do rock de Tom Petty e outras pulsões meio esquecidas (ou desprezadas).Mais cheinho, Casablancas tava com uma mecha loira no cabelo, mullets e um par de Nike fosforescentes, parecendo um Roberto Carlos teen. Cantou muito, e os guitarristas Albert Hammond e Nick Valensi estão debulhando no palco. Satisfazem quem quer o macio e também quem prefere o ardido.Já o Arcade Fire segue sendo aquela banda cheia de estranhos que nós amamos tanto. Liderado pela dupla Win Butler (guitarras, teclados e voz) e Regine Chasagne (voz, bateria, acordeão, teclados, o diabo), o grupo mantém o pop rock no nível mais alto e, de quebra, abastece seu show com uma descarga dionisíaca de alta intensidade.Diferentemente dos Strokes, o Arcade Fire consegue tocar quase inteiro o seu disco novo, The Suburbs, sem se preocupar com estranhamentos. Eles já são esquisitos o suficiente. Quando você acha que já viu tudo, eles pegam um instrumento medieval, o hurdy-gurdy, e o arremetem contra uma canção que parece uma sirene celta, Keep the Car Running. Chegaram a chamar ao palco uma diva dos anos 80, Cyndi Lauper, que cantou com os canadenses seu maior sucesso, Girls Just Wanna Have Fun, e também Sprawl II. Uma farra.Xilofone e acordeão em Neighborhood #2, percussão coletiva em No Cars Go, um órgão de papa-hóstias na política Intervention, uma blitz sonora em Ready to Start. Quando finalmente chegaram a algo parecido a um hit, Wake Up, as cerca de 10 mil pessoas que os assistiam já estavam se sentindo em casa com aqueles marcianos maravilhosos.DEZ MARAVILHAS DO JAZZFEST1A Uptown Orchestra de Delfeayo Marsalis2A newcomer Sasha Masakowski, nova belezura do jazz3O country rebelde do octogenário Willie Nelson4O emocionante encontro dos músicos de rua do Playing for Change5A energia lamacenta do Buckwheat Zydeco6A old school do funk de Maze and Frankie Beverly7A pulsão punk de uma rainha country, Lucinda Williams8O tornado cool do trompete de Nicholas Payton9O emocionante adeus final do grupo The Radiators10A integridade e o vigor juvenil de Wilco, Arcade Fire e Strokes

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