STRAVINSKI FANTÁSTICO

Regida por Jamil Maluf, ópera O Rouxinol estreia no Municipal

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Por Maria Eugenia de Menezes
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Uma beleza que, de tão arrebatadora, é capaz de arrancar lágrimas do mais poderoso dos homens, de aplacar todas as dores, de vencer até mesmo a morte. Na ópera O Rouxinol, Igor Stravinski narra a história de um imperador embevecido pelo canto de um pássaro. A obra, que toma de empréstimo o argumento da fábula de Hans Christian Andersen, tem aura de fantasia: peixes que se tornam pássaros, palácios chineses, fantasmas. Tudo bem ao gosto do maestro Jamil Maluf, que já encenou outros dois títulos de inspiração fantástica: João e Maria, ópera de Engelbert Humperdinck que estreou em São Paulo em 2002, e O Menino e Os Sortilégios, montagem da obra do compositor Maurice Ravel, vencedora de cinco troféus do Prêmio Carlos Gomes no ano passado. "Queria formar uma sequência de óperas baseada em contos fantásticos", diz Maluf, que conduz a Orquestra Experimental de Repertório."Além disso, pareceu uma oportunidade de resgatar o Stravinski como extraordinário compositor de óperas, um lado da sua produção que não é tão conhecido." Referência incontornável do século 20, o músico russo tornou-se particularmente popular pelos balés que criou, entre eles A Sagração da Primavera.Outro ponto essencial para a escolha de O Rouxinol foi o elenco. "Não adianta querer fazer um título e não ter as vozes", lembra o regente. Neste caso, ele tinha em mãos a russa Olga Trifonova, uma soprano coloratura com timbre sob medida para o papel do pássaro cantor.O Rouxinol é obra peculiar dentro do repertório de Stravinski. Começou a ser escrita em 1908, mas só seria concluída em 1914. O hiato de seis anos favoreceu a criação, dotando sua partitura de momentos musicais bastante distintos. Combina passagens despretensiosas, como a Canção do Pescador. "Absolutamente tonal, e desconcertante de tão simples", define Maluf. Até peças de mais complexidade, caso da Marcha Chinesa, que abre o segundo ato. Ou do dueto entre o Rouxinol e a Morte, logo ao final. Plateia infantil. Tanto em João e Maria quanto na recente O Menino e Os Sortilégios, o maestro elegia as crianças como público-alvo. Para isso, ambas as peças eram cantadas em português. Na atual produção, optou-se por manter o idioma original, o russo - o que, talvez, afaste a plateia infantil. Ainda assim, a encenação possui atributos para atrair os espectadores mais jovens. A direção cênica de Lívia Sabag, assim como os cenários e figurinos de Fernando Anhê, esforçaram-se por criar uma atmosfera de conto de fadas. Há boa dose de efeitos especiais, como um barco que flutua pelo ar. Também foram amplamente utilizados os recursos de animação, recriando o ambiente de uma floresta e também do fundo do mar. "O fantástico me convidou a buscar soluções metafóricas, que fugissem da representação literal", comenta Lívia Sabag.

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