SPFW muda o perfil de suas modelos

O tipo mulherão exótica estará fora dos desfile de inverno que começam na semana que vem. Agora é a vez das bonequinhas, branquinhas, pouco malhadas, nariz afilado, mas bem magrinhas

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Por Agencia Estado
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Os sobrenomes, um emaranhado de consoantes de óbvia origem européia, têm de ser soletrados: Klein, Edehrd, Winck, Dreher... Personificando esses nomes complicados, moças muito altas, extremamente magras, de pele alva, narizes afilados e olhos amendoados. Pouquíssima miscigenação. Todas com carinhas de boneca. "Vai ser um verdadeiro festival de Suzies e Barbies nas passarelas do São Paulo Fashion Week", decreta Karin Gimenez, booker da Mega Models. Eis o perfil das moças escolhido para representar a cara e o corpo da moda nos desfiles de inverno do principal evento do setor - que começa na próxima segunda-feira, dia 27, no prédio da Bienal, no Parque do Ibirapuera em São Paulo. Todas são "new faces" (é esse o nome que se dá às garotas em início de carreira) e fortes candidatas a serem as tops de amanhã. "Desta vez, o tipo esquisito, de meninas que andam na passarela meio cambaleantes, meio doentes, foi deixado de escanteio pelos estilistas", adianta Denise Céspedes, diretora da Ford Models. "Parece que a beleza do tipo clássico e europeu está de volta à moda", completa. "Magras e altas, elas têm de ser sempre, caso contrário, não conseguem entrar nas roupas idealizadas pelos estilistas", completa Paula Tuma, booker da agência Next. "Nada também de muita malhação, os músculos devem ser levemente definidos." Outra gaúcha desponta para a fama E elas têm de ser brancas também. "No final do ano, antes dos feriados de Natal e Ano Novo, demos a orientação a todas as modelos para que não pegassem sol. Não adianta: nos desfiles de inverno as meninas têm de ser bem branquinhas", diz Denise Céspedes. Ou seja, quem espera ver um tipo de beleza esplendorosa ou exótica - como a de Daniela Cicarelli que, aliás, não entrou em nenhum casting - vai ficar a ver navios. "Enfim, o perfil em voga é de uma beleza nem um pouco latina, que foge completamente do biotipo da mulher brasileira", resume Anderson Baumgartner, booker da agência Marilyn. Para justificar a opção pelo perfil "branquinha com cara de boneca", bookers e designers apelam para a análise comportamental. "Os estilistas explicam que esse novo perfil de modelos representa bem a mulher moderna. Ou seja, a mulher que tem de ter personalidade forte, pois é obrigada a enfrentar e vencer no mercado de trabalho, e que, ao mesmo tempo, transmite uma fragilidade e uma carência femininas", explica Denise. Segundo os bookers, essa nova "atitude fashion" colaborou para modificar o andar das moças em cena. E fez com que-nesse sentido Gisele Bündchen se tornasse "ultrapassada". "Acompanhei todos os castings. Desta vez, quando as meninas davam passadas largas, meio trotando, meio cruzando as pernas, os estilistas se arrepiavam. E diziam: ´pode parar já! Nada de dar uma de Gisele!´", conta Anderson Baumgartner. Quem quiser andar na moda nas passarelas deverá ter passo firme, semblante sério, pouco rebolado e muita delicadeza. Representando esse novo padrão de beleza, surge um time de jovens modelos, todas com menos de 20 anos. Entre elas, uma das que certamente terá uma carreira de sucesso, segundo os especialistas do mundo fashion, é Palloma Dreher, uma garota de 15 anos, de cabelos lisos, nariz bem fininho, boca grande mas bem desenhada e uma pele que parece nunca ter visto sol na vida. Trata-se de mais uma gaúcha. Apontada por vários estilistas como o rosto do que a moda pretende ser em 2003.

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