SP: só uma biblioteca dá acesso gratuito à rede

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

A explosão da Internet passou longe das bibliotecas públicas na capital paulista. A terceira metrópole do mundo e a mais populosa do Brasil só oferece um ponto gratuito de acesso à rede, contrariando diretrizes da Unesco. Segundo o manifesto da entidade, de 1994, uma das 12 missões das bibliotecas públicas oferecidas pelos governos é "facilitar o desenvolvimento da informação e da habilidade no uso do computador". O primeiro levantamento elaborado pelo Conselho Regional de Biblioteconomia da 8ª região mostrou que 242 unidades não são informatizadas nem com o sistema interno de pesquisa, o Dobis Libis, 81 estão em processo de automação e 21 sem definição. A pesquisa não privilegiou nenhuma questão sobre o uso da Internet, mas segundo Neusa Macedo, responsável pela análise dos questionários, o conselho só tem conhecimento do serviço da Biblioteca Alceu Amoroso Lima. A instituição, que está longe das periferias, oferece acesso gratuito à rede para o público, por um período de 30 minutos, desde 1997. "Aqui percebeu-se realmente um sintoma de defasagens tecnológicas da biblioteca pública. O relatório constatou que um dos mais fortes desejos dos informantes é que suas bibliotecas alcancem a informatização e possam participar das práticas da biblioteca virtual", afirmou Neusa. Não querendo abusar - "Acho que deveria haver muito mais pontos e com vários computadores, já que a maioria das pessoas que não fazem parte da elite, mesmo não tendo condição de comprar um computador, tem interesse na Internet", repara o estudante Marcelo Doniset Gonçalves, ao encerrar sua navegação na Biblioteca Alceu Amoroso Lima. Ele procura trabalho na área de informática e também aproveita o serviço para enviar currículos por e-mail. "Não querendo abusar, mas acho que a biblioteca deveria oferecer uma impressora, já que não é permitido usar disquete", diz o autônomo, Waldo Marcelo Renato Brarda. "A navegação é muito lenta e se for perder tempo copiando os dados da pesquisa nao consigo aproveitar direito". Os dois usuários estão entre as 200 pessoas beneficiadas pelo serviço. Um número irrisório, perto das seis milhões de pessoas que chegam a utilizar, pelo menos uma vez por ano, uma das bibliotecas públicas ou centros culturais, segundo a Secretária Municipal de Cultura. A queixa mútua entre os usuários e funcionários deve ser solucionada até setembro, segundo a assessoria de imprensa da Secretária. "O atual secretário (Nilton Travesso, empossado nesta semana) vai investir R$ 669 mil para garantir os equipamentos, e a navegação deve ser feita em parceria com provedores", informa uma assessora. "O projeto só não foi feito antes por falta de recursos". São Paulo abriga 28 bibliotecas para adultos e 36 para o público infanto-juvenil. Mas para a presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia, Regina Celi de Souza, o problema é a falta de uma estratégia política para as bibliotecas, principalmente as escolares, já que "elas inexistem dentro das instituições". Apesar de ser obrigatório, de acordo com a Lei Estadual número 7.709 de 18 de março de 1976, que toda escola com mais de 20 salas de aula tenha um bibliotecário e uma biblioteca, na realidade só cinco instituições estaduais obedecem à determinação. "A Internet é fundamental em uma biblioteca e facilitaria a vida de todo mundo", opina a estudante de primeiro ano do ensino médio Renata Aparecida de Cássia Cano, criticando a falta de livros atualizados no acervo e de material de apoio. Enquanto dura a greve dos professores da rede pública, ela e mais quatro colegas visitam quase todo dia a biblioteca da Affonso Taunay, na Móoca. A presidente do conselho diz já ter encaminhado pessoalmente um projeto para a secretária Estadual de Ensino, Teresa Roserley Neubauer da Silva, pedindo a implantação, mas até agora não teve resposta. Pesquisa - As 31 questões (29 abertas e duas fechadas) do relatório que apontou a defasagem tecnológica das bibliotecas foram elaboradas pela equipe de Regina durante dois meses. Ela organizou a distribuição de 514 questionários junto às secretarias de Cultura dos municípios paulistas. Entre estes, 368 foram respondidos, o que equivale a 60% de retorno. Só na Capital foram 66 respostas. A falta de padrões mínimos atualizados de biblioteca pública e a dificuldade de relacionar contextos diferentes (cidades de um só Estado) prejudicaram a análise, segundo Neusa Dias. Mesmo assim foi possível marcar os principais pontos deficitários no serviço. "É um processo de formiguinha, mas que deve ganhar mais força no segundo semestre com a implantação do projeto Biblioteca Cidadã, que é organizar as bibliotecas existentes nas favelas e criar bibliotecas nos conjuntos residenciais Cingapura". Enquanto aguardam a ampliação do acesso público gratuito à rede, os estudantes costumas recorrer às instituições privadas ou universidades. Muitas vezes, até clandestinamente, como relatou um dos "sem-net".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.