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SP identificará edifícios tombados

Por Agencia Estado
Atualização:

Boa parte da história de São Paulo pode ser contada por seus edifícios. Só de prédios tombados pela importância histórica e arquitetônica são cerca de 3 mil, muitos deles localizados no centro. Para a maioria dos paulistanos, porém, alguns não passam de estruturas antigas, desconhecidas e sem valor. Com a idéia de informar e fazer os cidadãos desenvolverem o hábito de valorizar o patrimônio paulistano, o Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) decidiu pôr em prática uma lei que já existe há anos e até agora não foi cumprida. Criada em dezembro de 1985, a legislação determina que a exemplo do que ocorre em cidades européias, todos os bens tombados em São Paulo sejam identificados. O objetivo do DPH é instalar placas de identificação do tamanho de uma folha de papel sulfite A-4 nas fachadas dos imóveis. Feitas de alumínio, deverão trazer o brasão da Prefeitura e, em letras pretas, o nome do imóvel e a data em que foi tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp). Educação - Dependendo da importância do bem, também poderá ser juntada uma outra placa com informações históricas. "É uma questão de educação patrimonial. Não tem sentido o imóvel ser tombado se as pessoas não conseguem identificá-lo", acredita a historiadora Maria Candelária Moraes, chefe da Seção de Divulgação e Publicações do DPH. "Até as dificuldades de preservar o patrimônio muitas vezes são reflexo dessa falta de informação da população." O trabalho de identificação deve começar pelo quadrilátero formado pelas Ruas 7 de Abril e Conselheiro Crispiniano e pelas Avenidas São João e Ipiranga. Englobando as Ruas Dom José de Barros, Marconi e 24 de Maio, a área tem 68 imóveis tombados. Também ganhará uma placa o Solar da Marquesa de Santos, localizado do lado do Pátio do Colégio. Segundo Maria Candelária, ainda não há prazo para a instalação das placas, mas a expectativa é que elas estejam fixadas até o aniversário da cidade, em 25 de janeiro. O sucesso da iniciativa dependerá, no entanto, da colaboração da sociedade. Sem dinheiro, a Prefeitura espera fechar parcerias com entidades que lutam pela preservação do centro da cidade, ações locais e empresas para conseguir comprar as placas, que saem por R$ 15,00 cada. Elegância - Entre os prédios que devem receber a identificação, estão alguns com passado badalado, como o Edifício da Paz, construído em 1913 na Rua Barão de Itapetininga onde funcionou a Confeitaria Vienense. Era lá que os moradores elegantes da cidade se reuniam para um chá depois do trabalho ou após passar a tarde fazendo compras em ruas do centro ou na matinê de algum dos imponentes cinemas da região. Como no antigo Mappin, na Praça Ramos de Azevedo, os bolos, torradas, geléias, tortas e pães variados eram acompanhas por músicas da época, tocadas ao vivo no piano. Com a decadência do centro, a sofisticada confeitaria foi substituída por um restaurante fast-food, fechado há dois anos. As portas e janelas ainda são originais, mas no local há hoje apenas um salão vazio à espera de locatário. Nos outros andares, lojas, escritórios de engenheiros e advogados, alfaiatarias. "O pessoal chique não vem mais para a cidade, ninguém mais toma chá à tarde e pouco se liga para o passado. Acho que essas placas não vão acrescentar nem tirar", diz o administrador do edifício, Rafael Câmara. Mais interesse - Perto dali, na Rua Dom José de Barros, o zelador do Condomínio São João Del Rey, Edmilson Rodrigo da Silva, tem outra opinião. "Já vem muita gente aqui perguntar de quando é o prédio, mas eu não sei dizer. Acho que com essa placa vai ser bom, porque despertará ainda mais o interesse", afirma, prometendo informar-se sobre a origem do edifício erguido nos anos 20. O São João Del Rey está do lado de outro bem tombado pelo Conpresp, o Edifício e Galeria Califórnia. Com entradas pelas Ruas Dom José de Barros e Barão de Itapetininga, a galeria teve sua fachada desenhada pelo arquiteto Oscar Niemeyer nos anos 50. Hoje, uma parte dela está escondida por letreiros de bingos e pelo movimento dos ambulantes, que ocupam as ruas da região com barracas de mochilas, cintos, ursos de pelúcia e CDs de música sertaneja.

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