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Sotaque latino e do soul

Evento dedicado a artistas alemães foi marcado por uma interessante mistura de influências

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Por Redação
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Apenas uma expressão em alemão (um isolado "obrigado" em tom bem-humorado) foi ouvida no palco do Sesc Pompeia, nas quatro noites do festival Alemanha Groove, que começou na quinta e terminou no domingo (e também foi levado a Taubaté). Música alemã tradicional também passou longe dos shows, em que predominaram o soul, o jazz e os ritmos latino-americanos. Os grupos, instrumentistas, cantores e DJs são expoentes do nu-jazz e do electro swing, correntes da moderna música europeia, e incluíram no repertório desde standards de jazz, quebradeira funky, até rumba, neobossa, drum'n'bass e samba estilizado. Foi a primeira vez que esse elenco veio ao Brasil, pelas mãos do curador Paulo Aliende.Groove é uma expressão que não tem correspondente tão direto e sonoro na língua portuguesa. Mas não precisa de tradução para quem tem senso rítmico, para tocar ou para ouvir. Como quem tem groove tem tudo, pretos, mulatos e brancos, alemães e imigrantes romperam fronteiras musicais e linguísticas e promoveram noites festivas e concorridas, com ingressos esgotados e plateias calorosas na choperia do SESC - que, desde a década de 1980, é um dos melhores palcos da cidade para shows dançantes. Recentemente, outro festival, Istambul Agora, tomou o mesmo espaço com shows antológicos e igual cuidado com a qualidade de som, cenários funcionais e luz deslumbrante de Fábio Retti.Do Alemanha Groove, as duas performances da diva americana Brenda Boykin (na quinta com seu trabalho solo e no sábado com o Club de Belugas) podem figurar tranquilamente entre os melhores shows do ano em São Paulo. Dona de um vozeirão e uma versatilidade do tamanho de seu carisma, Brenda transita com desenvoltura impressionante por soul, jazz, funk, música afro-latina. Admiradora de Elis Regina, prestou homenagem à cantora brasileira nas duas apresentações em que também fez duo vocal com outro talentoso cantor, o inglês Ian Mckenzie. No sábado, Brenda ainda participou do show de Bebo Best (de origem italiana), improvisando com outro convidado, o brasileiro Filó Machado.Se entre os músicos, reinaram os homens, excelentes instrumentistas, como o guitarrista Detlef Hoeller (também DJ), o baixista Bernd Windisch e o flautista e saxofonista York, quem brilhou nos vocais foram as mulheres. Encontros efervescentes de metais e linhas de baixo - mistura tão básica quanto contagiante - deram o tom nos shows do Bahama Soul Club e Bebo Best, ambos puxando fortemente para os ritmos afro-latinos.Essa mesma linha seguiram os DJs de nomes poéticos DJane Lady Smiles (austríaca) e Gardener of Delight (alemão), além de Detlef, que abriram cada noite tocando sets impecáveis para esquentar a noite e se juntaram no domingo na festa de encerramento, que também teve o brasileiro MZK, interagindo com músicos do Bahama Soul Club e de Bebo Best & Super Lounge Orchestra.

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