Sonia Guggisberg expõe em SP

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Por Agencia Estado
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Para chegar ao conjunto de 11 obras que apresenta a partir desta quinta-feira,em São Paulo (dez na galeria Millan e uma na Capela do Morumbi), Sonia Guggisberg trilhou um caminho particular: desenhista industrial, filha de cantora lírica, a artista plástica começou a atuar nos anos 90, mas permaneceu descolada do cenário de artistas que, de uma certa forma, promoveram um contraponto às questões matéricas da produção vigente da década anterior. O trabalho de Sonia, em primeiro lugar, empresta sentidos novos aos materiais que utiliza: o feltro de lã de carneiro e a borracha, ambos da indústria pesada, ganham a leveza de desenhos a nanquim. "Esse tipo de feltro é utilizado em equipamento metalúrgico e naval", comenta ela, fascinada pelo histórico dos tecidos, que chegaram à galeria Millan como retângulos planos para virarem obra quando pendurados nas paredes pelas tiras de borracha. É na construção das peças, grandes sacos e tubos e definidos pelas dobraduras, que a artista dá vida própria à matéria-prima. Seu projeto consiste em promover uma tensão limítrofe entre a brutalidade e o peso do tecido e da borracha que, suspensos por um ou dois pregos (cabos de aço, na peça na capela) ganham um movimento elegante e sutil, como um movimento musical. A escolha pelas superfícies rígidas evita qualquer ligação com o panejamento barroco, um universo que vem sendo retomado de formas diversas pela arte contemporânea paulista. A ausência de cor - Sonia utiliza os materiais em suas cores naturais (tons semelhantes de cru) e o preto, no caso da lã de carneiro - reforça o seu interesse pelas propriedades da natureza dos materiais. Um pezinho no concretismo que já foi mais evidente em momentos anteriores. "Hoje, minhas peças estão muito mais orgânicas", acrescenta a artista, que abriu mão das elaborações geométricas. Mas, apesar da comparação irresistível, Sonia ressalva que não se trata de nenhum tipo de analogia com o corpo humano. O ritmo e as curvas das superfícies-escultura desvendam a visceralidade dos dois materiais que são apresentados como um duo em que a desenvoltura da borracha desafia a rigidez do tecido. Desse jogo implícito em cada peça, Fabiana Werneck, autora do texto do catálogo, destaca a sensação cinética das construções: "Devido ao caimento, algumas nos instigam a ampará-las, como se existisse um movimento latente", escreve ela. De fato, apesar de literalmente presas, as obras de Sonia Guggisberg lembram aquelas fotos de dança em que o olhar do fotógrafo foi capaz de congelar o movimento no instante do ápice de sua execução. Sonia Guggisberg - De segunda a sexta, das 10 às 19 horas; sábado, das 11 às 14 horas. Galeria Millan. Rua Estados Unidos, 1581, tel. 852-5722. Até 6/10. Abertura dia 14, às 21 horas.

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