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Sonho N.º 18

De Naguib Mahfuz

Por Agencia Estado
Atualização:

Nós nos sentamos lado a lado no banco de um pequeno barco a vapor. Cada um de nós parecia estar sozinho, como se nenhum de nós conhecesse o outro. O capitão entrou a bordo. E simultaneamente à sua chegada, o motor do barco começou a funcionar. Percebi então que na verdade ele não era senão uma bela moça. Ao vê-la, meu coração pôs-se a tremer. Ela olhou pela janela. E eu, eu me encontrava de pé sob uma árvore. O tempo era aquele que se situa em algum lugar entre a infância e o começo da juventude. Meus olhos estavam fixos sobre o seu rosto nobre, enquanto ela atravessava furtivamente o rio. Ao admirá-la, o batimento do meu coração harmonizou-se com os movimentos da brisa. Tive o impulso de ir em sua direção e ver como ela me receberia. No entanto, de repente me vi no meio de uma rua popular. Esta era talvez a de Al-Ghoreia, naqueles dias onde mal se pode andar nela. Na ocasião do Muled do Al-Husseim (celebração popular religiosa). Notei que ela estava tentando abrir seu caminho com grande dificuldade no meio da massa. Quando chegou perto de uma das esquinas decidi me aproximar dela... Repentinamente, um grupo de recitadores religiosos começou suas louvações ao martir, Al-Husseim. Sem compreender porque, fui novamente transportado ao barco. Mas este já havia, no entanto, percorrido um espaço relativamente longo no meio do oceano. Dirigi o meu olhar em direção ao lugar onde deveria se encontrar o capitão e vi que não havia lá agora senão um velho marinheiro preocupado. Olhei ao meu redor para procurar a bela ausente e só encontrei cadeiras vazias. Foi então que decidi me levantar e perguntar ao velho capitão, onde andava a bela moça.

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