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'Solace', um thriller múltiplo e paranormal

Afonso Poyart conta como foi rodar seu primeiro filme em Hollywood

Por Flavia Guerra
Atualização:

Solace, novo filme de Afonso Poyart (de Dois Coelhos), é definido por alguns como thriller paranormal, por outros como policial, mas o diretor prefere chamá-lo de antigênero. "É a história de um médico aposentado que, depois de perder a filha, é procurado por um agente do FBI para ajudar a solucionar uma série de assassinatos", definiu Poyart em conversa com o Estado, na semana passada, quando o brasileiro havia acabado de voltar ao País, depois de passar semanas em Atlanta, onde o longa foi rodado. "É um filme interessante e eu quero fazer um filme antigênero. Não é um filme de serial killer. Só tem uma premissa inicial, da busca de alguém, mas depois isso muda. É um multiplot, um elevated thriller." Poyart, que começou a carreira na publicidade, dirigiu videoclipes, curtas e estreou no longa-metragem com Dois Coelhos, afirma sem pestanejar que Solace foi a experiência mais difícil de sua vida. "Foram 32 dias de filmagens intensas, sem contar a preparação anterior, os ajustes no roteiro. E ainda teve o desafio de filmar em outro país, cultura, com outra lógica de mercado, com outra dinâmica de atores. É algo que mudou minha vida." Quando questionado sobre qual a maior diferença entre rodar um longa em caráter independente, como foi o caso de Dois Coelhos (em que Poyart além de escrever, produziu e dirigiu), e um em Hollywood, é rápido na resposta. Não afirma que é dirigir astros do naipe de Colin Farrell e Anthony Hopkins. Nem ter de dirigir em outro idioma. "É o dinheiro. O filme americano é visto pelo mundo todo. Então, um projeto como Solace, que nos EUA tem orçamento considerado pequeno, US$ 30 milhões, pode custar isso. No Brasil, um filme não pode custar R$ 60 milhões, pois não vai se pagar só no mercado interno. E acho que a língua é nosso maior empecilho. Eles têm o inglês a favor deles." Produzido pela New Line Cinema (da saga O Senhor dos Anéis), o projeto de Solace começo com a previsão de US$ 50 milhões e 55 dias de filmagem. "Ao longo do processo, caiu para US$ 27 milhões e 30 dias. Foi duro, mas conseguimos", lembra Poyart, que despertou o interesse do produtor e manager americano Brent Travers ao lançar Dois Coelhos, em janeiro de 2012. "Além de vender o roteiro original, que está sendo adaptado e vai ganhar um remake, a Sony comprou o original e deve lançá-lo em breve nos EUA." O longa abriu as portas para convites para dirigir produções americanas. "Assinei com a UTA (United Talent Agency) logo depois da estreia de Dois Coelhos aqui. E em agosto de 2012, depois de ler 70 roteiros e me apaixonar por Solace, já estava no projeto", recorda o diretor, que observa que o convite da New Line ocorreu muito por causa do equilíbrio entre a importância dada ao visual e à história em seu primeiro longa. "Acharam que minha pegada visual tinha tudo a ver com o perfil do personagem do Tony (como Anthony Hopkins gosta de ser chamado), que é clarividente. Há algo de A Origem", analisa. Para criar a identidade visual do thriller, Poyart analisou o potencial que o roteiro lhe dava. "Dois Coelhos é muito focado no visual, mas não deixa de se preocupar com o roteiro. Solace também. É um filme muito emocional. E também precisava de um visual forte. Se não, corria o risco de ter uma cara anos 80", comenta. "Não queria um noir ou dark. Até porque o assassino do filme é um 'mercy killer'. Ele mata pessoas que vão morrer. E tem poderes paranormais. O filme vira uma batalha entre dois paranormais, pois ele mata pessoas que sabe que vão morrer, de alguma doença horrível. Para não sofrerem. O roteiro explora essa questão de quase eutanásia."Detalhe interessante é que Solace nasceu para ser a sequência de um dos clássicos contemporâneos do thriller: Seven -Os Sete Pecados Capitais, de David Fincher, que também foi produzido pela New Line. "Os produtores queriam, inicialmente, que Fincher o dirigisse, mas ele não quis. Morgan Freeman foi cotado para ser o policial que o Tony (Hopkins) faz, mas não aconteceu. E o projeto mudou."Como o personagem de Hopkins é clarividente, foi possível explorar visualmente as experiências que Poyart tanto aprecia. "Assim, ganhei a confiança dos produtores, pois disse a eles que era isso que a história pedia", afirma ele, que teve como diretor de fotografia um americano, Brendan Galvin, mas fez questão de manter seu parceiro brasileiro Carlos Zalasik (que assina a fotografia de Dois Coelhos) como operador de câmera. Outro talento brasileiro na produção é a atriz Luisa Moraes. "Faz um papel pequeno, mas importante, pois permeia as visões de John Clancy (Hopkins)." Completando o elenco, há Jeffrey Dean Morgan, Abbie Cornish, entre outros. Sobre a experiência com o casting, Poyart diz ter sido positiva. "O início foi difícil. Era um desafio chegar com a ideia da cena, fazer com que os atores entendessem e concordassem e fizessem o que eu queria, mas sem perder a espontaneidade. Esse mix é o melhor", conta. "Como dizer a Tony o que fazer? Um gênio. Ele foi durão no início, mas depois se tornou um grande parceiro. Ele é mestre da simplicidade. Colin também é um cara ótimo. Sem estrelismos. E o Dean Morgan é um ator que merece mais atenção. Ótimo também", comenta o diretor, que agora trabalha na edição de Solace, ao lado do montador Lucas Gonzaga. "Por contrato, o primeiro corte é meu. Isso faz toda a diferença. Mexi no roteiro (escrito por Peter Morgan, de 'A Rainha', 'Frost/Nixon' e '360'), pude dar minha cara ao filme e tenho liberdade na edição. Ainda não terminou, mas, por ora, estou feliz. Pude fazer muito coisa do meu jeito."

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