Só tinha de ser música

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Por Lauro Lisboa Garcia
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Faz cerca de quatro anos que o cineasta Nelson Pereira dos Santos vem trabalhando em dois aguardados projetos envolvendo a música de Tom Jobim. Um deles é totalmente musical, o outro são histórias sobre sua vida. A seguir trechos da entrevista concedida pelo diretor ao Estado, na noite de sexta-feira em São Paulo, em que fala dos dois filmes.O sr. havia dito que A Música Segundo Tom Jobim seria basicamente de números musicais com eventuais depoimentos. Como ficou a versão final?Originalmente o projeto seria dividido em três atos, cada um concentrando as canções de acordo com o tema. O primeiro seria o Rio de Janeiro, o segundo seriam as mulheres a quem o Tom dedicou canções e o terceiro, a natureza. Ia fazer com intérpretes de hoje cantando essas canções com uma pequena apresentação de Chico Buarque sobre cada ato. Mas depois pensamos em procurar pessoas importantes que cantaram Tom Jobim e decidimos fazer um filme de montagem, utilizando imagens de arquivo. Então ficou assim, seguindo mais ou menos a cronologia da criação dele, a partir do momento da peça Orfeu da Conceição, que depois virou filme. Cada canção tem alguma informação visual rápida sempre para situar o momento da história, mas evitando a versão jornalística dos fatos. Então tem todos grandes os intérpretes brasileiros e internacionais.Tem Frank Sinatra? Pergunto isso por causa da questão de direitos sobre imagem...Sim, evidentemente. Frank Sinatra não poderia ficar de fora. Então, por causa dessa questão de direitos de imagens, o filme acabou custando o dobro do projeto inicial, que seria de R$ 2 milhões. Nunca tinha trabalhando assim antes, precisando fazer remessa internacional de valores. São 33% para a Receita Federal. Mas valeu a pena, pelo elenco do filme ficou barato, tenho até vergonha de dizer. Parece mentira.Nos anos 1980, o sr. realizou uma série para a extinta TV Manchete, com esse mesmo nome, que teve momentos antológicos de Tom. Que destino teve esse material com o fim da Manchete?Foi tudo destruído. Só não se perdeu totalmente porque algumas pessoas fizeram gravações caseiras em VHS. Paulo Jobim tem esses programas gravados e vem providenciando a recuperação de áudio e vídeo. É importante que isso volte a ser visto pelo público. Usei um trecho desses programas no outro filme (A Luz do Tom), em que entra a voz de Tom, depois Dorival Caymmi, Villa-Lobos.Poderia lembrar um pouco como eram esses programas?Era o Tom contando a história da música brasileira, especialmente carioca. Ele na casa dele, tocando piano, recebendo amigos, como Radamés Gnatalli, Dorival Caymmi, Chico Buarque, acompanhado por Dori Caymmi no violão e Danilo Caymmi na flauta, e sempre rolando uma conversa totalmente improvisada. Era tudo muito espontâneo, eu trabalhava com muito conforto, com três câmeras, gravava direto. Perdi o emprego por causa disso porque a Cora Rónai escreveu que era o primeiro programa inteligente da televisão brasileira. Ninguém mais me quis (risos).

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