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Só faltavam as guitarras

DJs e produtores como Matthew Dear se voltam ao formato banda em busca de novas possibilidades

Por CLAUDIA ASSEF
Atualização:

Escalar um DJ para modernizar o som de uma banda deixou de ser novidade nos anos 90. Agora o caminho que vários DJs e produtores de música eletrônica vêm trilhando é justamente o oposto. Apostando no som analógico de guitarra, baixo, percussão, bateria, etc., vários artistas da dance music buscam no formato banda uma maneira de encontrar novas possibilidades para sua música. É o caso do DJ e produtor de tecno americano Matthew Dear, que lança seu quarto álbum, Beams. Com o som do novo disco, que define como "pop estranho", Dear se afasta da persona de produtor de dance music que o acompanha desde 1999, quando lançou seus primeiros trabalhos e ficou conhecido como um DJ e produtor de tecno que também gostava de botar sua voz grave sobre bases eletrônicas. Em entrevista ao Estado por telefone, de sua casa, no Estado de Nova York, Dear falou sobre o que o levou a buscar uma banda e também sobre o som encontrado neste novo álbum. Segundo ele, a aproximação da sua persona DJ e produtor de música de pista de dança para esta faceta mais roqueira e band leader não foi drástica."Desde que comecei a fazer música, sempre toquei coisas diversas. Comecei a tocar guitarra aos 14 anos. Em seguida, comprei uma bateria eletrônica e um sintetizador e comecei a gravar músicas com vocal. Mas depois da minha primeira festa de música eletrônica fui atropelado pelo tecno, me apaixonei pela dance music. Vi ali a chance de começar na música profissionalmente. Pensei: 'É isso que vou fazer agora, ser um DJ, fazer faixas de tecno, de house'. Era a minha paixão."No intervalo de um ensaio em sua casa, onde passa as faixas do novo disco com os músicos de sua banda - o baixista Danny Scales, o baterista Ian Chang e o percussionista Samer Ghadry, também responsável pelo sintetizador e backing vocais. O próprio Dear, no palco, toca guitarra e canta todas as músicas.Foi em 2007, quando lançou o álbum Asa Breed, que resolveu experimentar com o formato banda pela primeira vez. "Comecei a lançar música eletrônica em 1999. Fiquei conhecido pelo som que fazia, que era o tecno. Mas nos bastidores sempre mantive minha paixão por composições, guitarras, por vários tipos de música. Aos poucos, comecei a pôr mais e mais letras nas minhas músicas. Aí que pensei que poderia experimentar tocar com uma banda", diz o texano.Como uma carreira sólida no universo da música eletrônica, que inclui hits como Dog Days ou Just Us Now e sua complexa letra de DR, além de remixes estourados, de artistas como Charlotte Gainsbourg (Time of the Assassin), The XX (VCR) e The Drums (Me and The Moon), Dear ainda mantém outros três projetos como produtor de música de pista: Audion, Jabberjaw e False, cada um com um estilo bem próprio.A boa reputação como DJ e produtor de dance music não afeta sua vontade de crescer como músico. "Não sou tão habilidoso quanto a minha banda. É uma oportunidade de aprender. Passo pra eles as músicas, e eles trazem coisas da sua experiência. Gosto de deixá-los livres", afirma Dear, que já esteve no Brasil em 2004 tocando no festival Sónar e se lembra de São Paulo como uma "cidade de gente muito animada". Matthew Dear enxerga com naturalidade o fato de DJs e produtores de música eletrônica buscarem uma aproximação de músicos e bandas. "Fazemos música eletrônica há tanto tempo que temos que procurar novos desafios. Nossa principal ferramenta sempre foi o laptop, os sintetizadores, pra fazer dance music. Mas um artista precisa se reinventar, para se manter criativo acima de qualquer coisa." Ele diz que além da vontade de se renovar, esse crossover de som analógico e digital só se tornou possível graças à tecnologia. "A possibilidade de ligar um laptop, um sequenciador ou um sampler, a instrumentos tradicionais de uma banda chegou com o advento de portas USB e MIDI. Então se trata de uma combinação de querer inventar coisas novas com o fato de que agora isso tudo é possível de se fazer", conclui.

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