Skate e autorretrato

O ensaio fotográfico de Fabiano Rodrigues na Pinacoteca

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Por Camila Molina
Atualização:

Na SP-Arte/Foto, que termina amanhã no Shopping JK Iguatemi, e ao expor ultimamente seu trabalho na Galeria Logo, Fabiano Rodrigues vai se tornando, aos poucos, um conhecido. Expondo ao lado de fotógrafos consagrados, o skatista profissional, santista de 37 anos que vive em São Paulo, nunca pensou que pudesse ser artista, mas seu gosto pela fotografia o levou a criar uma série original e de grande apuro estético, um ensaio de autorretratos em preto e branco no qual se flagra em manobras realizadas em diversas partes da cidade, até mesmo nos corredores e no octógono da Pinacoteca do Estado. "Não enxergo esse trabalho como performance, me preocupo com o movimento e com o equilíbrio da composição", ele diz.No estande da Galeria Logo na SP-Arte/Foto, cada fotografia em cópia única de Fabiano Rodrigues vale R$ 8 mil. São imagens que ele realizou com uma câmera Hasselblad e um controle remoto - técnica que conheceu a partir de contato com o fotógrafo Cassio Vasconcellos -, com destaque para a série criada em outubro no interior da Pinacoteca, que já possui obra do artista em seu acervo. Em duas sessões no museu, ele se autorretratou de skate nos espaços da arquitetura projetada em 1905 por Ramos de Azevedo e depois reformada na década de 1990 por Paulo Mendes da Rocha. "Sobre a relação com a arquitetura, tem o olhar para um lugar e o achar mágico; ao mesmo tempo, tem também a questão de ser proibido. Às vezes, há toda uma tática de guerra para conseguir fazer a fotografia. Tive de escalar, por exemplo, um prédio da (avenida) 23 de Maio", conta Rodrigues.Espaços emblemáticos de São Paulo, como a Oca projetada por Oscar Niemeyer no Ibirapuera, o Memorial da América Latina, o Museu do Ipiranga, o monumento escultórico de Tomie Ohtake na 23 de Maio, e na Avenida Brigadeiro Faria Lima, foram escolhidos por Fabiano Rodrigues para a criação dos autorretratos em que seu movimento em manobras de skate é registrado em um tom nada agressivo, pelo contrário. E tem vezes que o fotógrafo, autodidata, faz de 30 a 40 vezes a mesma obra para chegar ao resultado que deseja.À luz do dia, suas composições são de um diálogo limpo da ação com a paisagem arquitetônica. "Para esse projeto, funcionam as imagens mais clássicas, mais bonitas", afirma o fotógrafo, que é autocrítico, mas, ao mesmo tempo, ainda desenvolve um discurso sobre sua produção.

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