Siron revela intervenção urbana e encerra suspense

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Por Agencia Estado
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Siron Franco é absoluto - um dos mais importantes artistas contemporâneos brasileiros, o pintor goiano revela amanhã, às 11 horas, sua nova criação, em plena Avenida Faria Lima: uma intervenção urbana para a vodca Absolut. O trabalho, um grande painel de 18 m x 4 m, foi mantido coberto para despertar curiosidade e garantir o suspense, como reza o contrato assinado entre a empresa e o artista. Mas a obra já tem destino certo: seguirá para Nova York, depois de 15 dias de exposição. Trata-se do primeiro trabalho executado pela Absolut para promover sua logomarca (o contorno de uma garrafa) em uma cidade sul-americana, e Siron despontou como uma escolha natural - agitado, inventivo, com idéias que brotam freneticamente, ele é um artista plural. Além de São Paulo, onde ainda estão expostos alguns quadros na Mostra do Redescobrimento, seus trabalhos espalham-se também por Brasília (a série Casulos está no Museu Postal) e pelo Rio (a exposição Siron 800 Vezes será aberta quinta-feira, no Museu Nacional de Belas Artes). "Tenho idéias até quando estou sonolento", diverte-se ele que, irrequieto aos 53 anos, acaba revelando alguns detalhes da obra que será exposta a partir de amanhã. "Trata-se de algo ligado à nossa ancestralidade, estampada em uma enorme garrafa de 5 m de altura". Siron utilizou canetas plotter, que permite grande visualização. O desenho, porém, não foi impresso, mas estampado. O artista utilizou também três camadas, o que vai permitir diferentes refrações de luz ao longo do dia. O trabalho entusiasmou os executivos da Absolut, que decidiram levá-lo depois para os Estados Unidos, para o acervo de mais de 450 peças da coleção da campanha. O reconhecimento encoraja Siron a persistir com obras e esculturas provisórias. Um trabalho nada perene, mas importante em determinadas épocas. É o caso de um projeto de uma praça pública para deficientes físicos e visuais, em Goiânia, onde está seu ateliê. O espaço terá o formato de um olho, um grande círculo com diâmetro máximo de 33 m. No centro, será instalado um paredão com poemas de João Cabral de Melo Neto escritos em braile com bolinhas de gude. "O mesmo texto será reproduzido no chão, formado por placas de mármore", conta Siron, que consultou diversos portadores de deficiência antes de elaborar o projeto. "Escolhi João Cabral porque foi um poeta que também sofreu com problemas de visão". A praça sera adornada ainda por quatro sinos de vento. Cegueira - A deficiência visual, aliás, é muito cara a Siron. Afinal, seu pai, um agricultor que amava profundamente o cerrado cegou-se por determinação própria. Foi quando a família decidiu mudar-se da cidade-histórica de Goiás para a capital, Goiânia. "Ele foi contrário à mudança e dizia não suportar ver tanta violência na cidade grande. Assim, passou a encarar o sol até ficar completamente cego". O artista suspeita que o pai sofria de problemas mentais mas o novo estado físico não o incomodava. "Ele dizia ter descoberto um novo sonar e passou acompanhar a música com mais prazer". A necessidade de apurar o toque, apresentada pelo pai, fortaleceu em Siron a determinação de permitir que suas obras fossem também conhecidas pelo tato, apesar de reconhecer o prejuízo provocado pela acidez, resultante do contato humano. "Esculturas são objetos sensoriais e precisam ser tocadas para que se sinta a temperatura da pedra", justifica. Com a série Casulos, exposta em Brasília, Siron permite que o público utilize também o olfato: ao lado de cada um dos 25 gigantescos casulos (cerca de 2 m de altura), feitos de terra sobre estrutura metálica, estão tranças de fumo de rolo. "São reminiscências de infância porque meu pai gostava de picar o fumo". Se parece estar sempre olhando para o chão onde nasceu (em Goiás, pintou recentemente máscaras em uma pedra, homenageando os índios goyases que foram dizimados pelos bandeirantes), Siron mantém constantes viagens para o exterior. Para combater a solidão, passou a desenvolver um novo trabalho: fotografar o piso dos hotéis onde se hospeda. "Sempre fotografei muito o chão e agora comecei a fazer a série ´Os Pisos por Onde Passei´", explica o artista, colecionador de detalhes. "Descobri desde uma verdadeira fábrica de ácaros (um carpete com 6 cm de altura) em um hotel em Paris até outro com o chão forrado com ladrilhos da Idade Média, em Amsterdã".

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