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Show biz sem teto

Grandes casas, como Citibank Hall e Via Funchal, somem e não surgem sucessoras

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Uma parede foi aberta a marreta e o antigo lounge (no qual Chico Buarque tomou um drinque com Paulinho da Viola) agora serve improvisadamente de estacionamento para carros. Fechado há um ano e meio, o antigo Citibank Hall (ex-Palace e ex-Directv Music Hall) deixou de funcionar após 28 anos abrigando espetáculos e virou uma semirruína em Moema. As bilheterias ainda anunciam o serviço de entrega de tickets, mas a última notícia do velho Palace é uma denúncia - o Ministério Público apura suposto corte irregular de uma de suas árvores, ceifada para abrigar o futuro condomínio que será aberto no local.Pouco mais de dois quilômetros dali, na Vila Olímpia, o antigo Via Funchal, depois de 15 anos de concertos, shows, espetáculos e formaturas, tornou-se outra ruína de um tempo de exuberância das estruturas de show biz em São Paulo. O cenário nas imediações é desolador: buracos nas calçadas, tapumes, demolição em curso. As duas casas, Citibank Hall e Vila Olímpia, tinham capacidade para 10 mil pessoas. Em maio, após 8 anos de indie rock e de ter abrigado cerca de 2.500 shows (média de 300 por ano), fechou as portas na Rua Augusta o feérico Studio SP. Os proprietários culparam a "notória e agressiva especulação imobiliária que atingiu o Baixo Augusta e trouxe incerteza e oscilações ao projeto". O Studio SP foi um dos pontos de referência da revitalização da área que ficou conhecida como Baixo Augusta. O problema maior é que as casas fecham, mas não há uma reposição de novos espaços na maior capital do show biz da América Latina. Alguns espaços são "repaginados" para abrigar grandes apresentações, como é o caso do Espaço das Américas, na Barra Funda. A temporada de Roberto Carlos, em junho, foi o grande teste do local, que abriga cerca de 3 mil pessoas sentadas (7 mil em pé), mas é um antigo galpão industrial adaptado, e tem mostrado problemas de acústica e serviços ainda precários.Especialistas também criticam a realização de shows em lugares que não são preparados para isso, caso do Best of Blues Festival, que aconteceu em junho no WTC Golden Hall. "É um espaço mais adequado para convenções do que para um festival de música. Isso afeta a experiência dos fãs", diz Felipe Viveiro, um dos fundadores do site Rock'n'Chair, que fez levantamento inédito do mercado de show biz em São Paulo.Por decisão judicial, em maio a empresa XYZ Live foi obrigada a paralisar obras levadas a efeito no Jockey Club de São Paulo, relacionadas à construção da novíssima casa de espetáculos Claro Live House. A Justiça exige autorizações dos órgãos ambientais do Estado e do município de São Paulo. O novo espaço previa a realização de 190 eventos por ano. A decisão era assinada pelo desembargador Samuel Alves de Melo Júnior.Atualmente, as duas casas mais ativas no mercado são o HSBC Brasil (com 1,8 mil lugares) e Credicard Hall (cerca de 7 mil), ambas em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, em locais de trânsito complicado nos horários de rush - período em que os shows se iniciam. A situação contrasta com a vitalidade do setor. Apesar do cancelamento do festival Sónar e de os preços dos ingressos continuarem altos (a média, no primeiro semestre, foi de R$ 116,52 por ticket), o setor continua aquecido. Segundo o levantamento do site Rockin'Chair, no primeiro semestre foram realizados 243 shows internacionais no Estado de São Paulo (média de 1,3 por dia).

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